postado em 07/06/2009 09:06
O restaurante Braseiro da Gávea, localizado na Praça Santos Dumont, no tradicional bairro fluminense, foi testemunha do último encontro particular entre o maestro Sílvio Barbato e Augusto Guerra, 37 anos, violoncelista da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS). Escolhido o prato, os amigos, que se conheceram na década de 1980, iniciaram um saboroso bate-papo no início da tarde de sábado 30 de maio, um dia antes de Barbato embarcar no voo AF-447. O assunto central da conversa foi a promissora carreira do maestro no exterior. ;Ele falou que vivia um momento de realização profissional, pois estava prestes a estrear uma ópera de sua autoria na Ucrânia;, conta Guerra ao Correio.
Autor das óperas O Cientista, baseada na vida de Oswaldo Cruz, e Chagas, sobre Carlos Chagas, Barbato ainda encontrou tempo para comentar as apresentações que faria na Europa ; ele também participaria de um concerto em Roma, na Itália ; e citar o caso do Azerbaijão. ;O maestro fez uma breve análise sobre aquele país, que, mesmo sendo islâmico e enfrentar sérias consequências por conta da Revolução Russa, conseguiu manter uma vida musical;, relatou.
Terminado o almoço, Augusto e Barbato decidiram passear pelas ruas da Gávea. ;Enquanto caminhávamos, diversas pessoas abordaram o Sílvio. Aí ele virou e afirmou sorrindo: ;Se eu quisesse ser prefeito. Mas meu grande sonho é me tornar presidente do Flamengo;;, lembra o violoncelista. Após o rápido passeio, Augusto, que seguia a pé, e Barbato, empurrando sua bicicleta, se dirigiram à parada de ônibus mais próxima. Como Augusto não sabia o número da condução que o levaria até Copacabana, bairro onde se hospeda, o maestro pedia informações. ;Ele só foi embora depois que entrei no coletivo. Barbato continuou me olhando até o ônibus dobrar a rua. Foi a última vez que o vi.;
Grandes amigos
Enquanto Augusto seguia para Copacabana, Barbato pedalava com destino à sua casa, onde finalizou os últimos preparativos de sua viagem a bordo do Airbus A330-200. ;É uma perda enorme. Era um grande amigo que vai fazer muita falta;, disse o violoncelista, que consolidou sua amizade com o maestro no segundo período em que ele comandou a orquestra do Teatro Nacional (1999 a 2006).
A primeira vez que Augusto ouviu falar de Barbato foi na década de 1980, quando seu pai, Antonio Guerra Vicente, 67 anos, então professor da Universidade de Brasília (UnB), comentava sobre alguns nomes do corpo docente da instituição, incluindo o de Barbato.
Por coincidência, foi também dentro de um ônibus, com destino a Juiz de Fora (MG), que o violoncelista recebeu o primeiro telefonema informando sobre o desaparecimento do voo AF-447 e que nele estaria o maestro. ;Não acreditei. Até porque dois dias antes havia almoçado com Barbato.; O celular de Augusto voltou a tocar no momento em que desembarcava na cidade mineira. ;Era um integrante da orquestra confirmando que o Sílvio estava realmente no avião da Air France.; Apesar do que esperam alguns familiares, Augusto acha difícil que haja sobreviventes do Airbus A330-200. ;É impossível;, disse, ainda sem acreditar no desastre aéreo que levou um dos seus grandes amigos.