postado em 10/06/2009 10:07
Graduado em engenharia de automação, Marcelo Afonso, de 29 anos, tem um bom salário e investe parte dele em ações. O rapaz planeja um brilhante futuro profissional, mas, por enquanto, uma coisa é certa: não pensa em sair da casa dos pais, onde tem carinho, comida e roupa lavada.
A jornalista Graciela Betti, de 27, é outra que se esforça em busca de um contracheque gordo. Ela devora livros dias e noites para fazer um concurso público e decidiu que só construirá o próprio ninho depois que alcançar o objetivo.
O professor de educação física Ricardo Francisco Biato, de 28, já foi aprovado em concurso para a rede municipal, mas não cogita de deixar a proteção de Terezinha e de Raymundo até se tornar dono de uma bela conta bancária. Marcelo, Graciela e Ricardo são exemplos da geração canguru: filhos que saem cada vez mais tarde da casa dos pais.
A mudança de comportamento está comprovada na dissertação Casa, comida e roupa lavada: fatores associados à saída do jovem brasileiro do domicílio de origem. O estudo, assinado pela socióloga Regiane Lucinda de Carvalho e defendida no programa de pós-graduação (mestrado) em demografia da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG, sob a orientação da professora Paula de Miranda Ribeiro, constatou que a parcela de pessoas do sexo masculino entre 15 e 34 anos que vivem na companhia dos pais passou de 57,5%, em 1986, para 61,4% em 2006. Quanto às mulheres, os percentuais subiram de 46,3% para 50,4%. Os dados são nacionais.
O que mais chama a atenção é a faixa etária: acima dos 25 anos, quando, teoricamente, o jovem já tem idade para ter concluído o ensino superior. No caso dos homens de 25 a 29 anos, a pesquisa constatou que 44% ainda não construiram o próprio lar.
Em 1986, esse percentual era de 32,2%. No grupo de 30 a 34, o índice subiu de 13,7% para 22,2%. Já o número de mulheres de 25 a 29 anos que continuam sob a proteção dos pais aumentou de 24,3% para 33%. Entre aquelas de 30 a 34, o salto foi de 13,7% para 17,8%. A socióloga chegou aos números depois de comparar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) de 1986 com a de 2006.
Vários motivos explicam o crescimento da geração canguru, como o aumento da escolaridade, cada vez mais exigida pelo mercado de trabalho, o que leva o filho a só sair de casa com um bom currículo. Outra justificativa é a mudança de valores, pois, segundo a pesquisadora, ;os pais já aceitam conviver com os filhos por mais tempo dentro de casa;. Mas o tradicional conforto do lar ; casa, comida e roupa lavada ; é o que leva muitos jovens a continuar onde estão.
Marcelo não abre mão desse trinômio enquanto não tiver condições de manter o padrão de vida que leva no apartamento dos pais, no Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. ;Tenho que fazer o pé-de-meia;, justifica o moço, que ganha um bom salário, mas, consciente, diz que o valor é excelente para quem não tem nem sequer um passarinho para sustentar.
Ele diz que a remuneração não daria para manter o padrão de vida que tem hoje, pois o gasto com aluguel, condomínio, luz, internet, TV a cabo e outras despesas abocanharia a maior parte de seu contracheque.