Brasil

Assistência social vai às casas de viciados para combater o crack

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postado em 14/06/2009 11:40
A realidade de uma mãe, exposta em reportagem de telejornal no Rio de Janeiro, provocou mudança radical no atendimento público aos jovens usuários de crack na capital, com desdobramentos também nas cidades vizinhas. A mãe do rapaz de 20 anos contou sua tentativa de convencê-lo a voltar para casa e tentar o tratamento contra o vício, ao que ele repetia: ;Não, eu quero morrer, eu vou morrer, não vou sair daqui;. A família procurou auxílio na assistência social da cidade e ouviu que sem o rapaz aceitar ajuda não era possível fazer muito. ;Nós temos 40 Centros de Referência da Assistência Social (Cras), cada um com quatro assistentes sociais, espalhados pelo Rio, com a expectativa de criar mais 10 até setembro. A partir de agora, eles visitarão as casas de quem procurar ajuda, porque o crack é uma droga que com certeza leva à morte e seu consumo cresce de maneira avassaladora;, disse o secretário municipal de Assistência Social, Fernando William, que também se confessou chocado com a reportagem da televisão. Os Cras atendem a população em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação e ou fragilização de vínculos afetivos-relacionais e discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, entre outras. Outra instância do Sistema Único de Assistência Social é o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), num total de nove na cidade do Rio de Janeiro. O Creas é responsável pela oferta de atenções especializadas de apoio, orientação e acompanhamento a pessoas e famílias com membros em situação de ameaça ou violação de direitos. O governo federal, por meio dos ministérios da Saúde e da Justiça, liberou recentemente R$ 114 milhões para conter o avanço do crack no país, sobretudo nas duas cidades mais populosas, onde existem ;cracolândias; há bastante tempo: São Paulo e Rio de Janeiro. Esta verba emergencial será empregada ao longo do ano no tratamento dos usuários, a partir da aquisição de remédios, mas também no acompanhamento psicológico e na terapia de apoio que consolidam a recuperação. ;No censo municipal de abandono, do ano passado, registramos 410 crianças e adolescentes abandonados nas ruas da cidade;, disse Fernando William. ;São menores e jovens que usavam tinner e cola de sapateiro e agora usam crack, mais barato e muito mais prejudicial;, explicou o secretário. A rotina do seu pessoal revela que crianças a partir dos oito anos de idade compram pequenas pedras da droga por 50 centavos e se viciam imediatamente. ;O viciado não quer saber de nada, só do crack. Mas a droga é tão violenta que as próprias crianças preveem a morte. Ficam até seis dias sem comer, perdem as forças, a morte é a consequência natural para elas;, disse. Fernando William lembrou também a dicotomia existente entre o combate ao vício e o Estatuto da Criança e do Adolescente, no qual são impostas restrições ao emprego de força. ;Para dar uma idéia de como o usuário vive exclusivamente para o crack, numa ação comum da secretaria na área da rodoviária, três agentes sociais só conseguiram conter a violência de um adolescente de 14 anos a muito custo e com algemas. Sei que corro o risco de infringir o estatuto, mas costumo dizer que usaria a mesma força com um filho meu, se estivesse na situação de risco desses meninos;, admitiu. Ainda segundo o secretário municipal de Assistência Social, o universo de usuários de crack na cidade e nas regiões periféricas pode atingir mais de três mil crianças, adolescentes e jovens. A rápida disseminação da droga, seu baixo custo e a constatação do usuário de que está num beco sem saída, tudo isto no contexto da reportagem exibida na tevê, nortearam a mudança de procedimentos da assistência social pública no Rio de Janeiro. Fernando William disse que na maioria dos casos, o viciado sabe o que o aguarda e quer deixar o crack, mas se sente impotente. Os familiares, como a mãe que expôs o drama publicamente, precisam do apoio e do acompanhamento em todo o processo de recuperação. ;A crise de abstinência do viciado em crack é muito violenta para ser tratada dentro de casa, em situação de vulnerabilidade ou risco. Por isto a presença do Estado é essencial não só nesta primeira etapa, a do tratamento químico, mas também em todo om processo de recuperação do viciado;, concluiu.

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