Brasil

Pesquisa revela que percentual de usuários de camisinhas caiu para 46,5% em 2008

Sete milhões de brasileiros já tiveram relações extraconjugais

Rodrigo Couto
postado em 19/06/2009 07:00
Apesar dos 33 mil novos diagnósticos de Aids a cada ano e do fato de 88% dos municípios brasileiros registrarem pelo menos um caso da doença, a população tem usado menos preservativos. O percentual de usuários passou de 51,5% (2004) para 46,5% (2008). Os jovens entre 15 e 24 anos (67,8%) são os que mais usam camisinhas, enquanto o índice entre as pessoas com idade de 50 a 64 anos é de 37,9%. Os dados integram a Pesquisa de Comportamento, Atitudes e Práticas da População Brasileira de 15 a 64 anos (PCAP) 2008, divulgada ontem em Brasília pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Classificado como o maior levantamento do gênero já realizado no país, o estudo concluiu que 16% dos brasileiros mantiveram relações sexuais extraconjugais ; isso significa que, dos quase 44 milhões que vivem com companheiros (as), pelo menos 7,1 milhões tiveram parceiros (as) eventuais paralelamente ao relacionamento. Durante as traições, 63% afirmaram não fazer uso do preservativo em todas as vezes que fizeram sexo fora do compromisso (namoro, noivado, casamento). Entre os homens, o percentual é de 57%, enquanto entre as mulheres esse índice fica em 75%. ;Isso é muito preocupante. Vamos ter que entrar e chegar junto, levando informação e propondo debates para o ponto central: não pode haver relação sexual sem o preservativo. O material da pesquisa é fundamental para a pasta rever suas políticas e estratégias no enfrentamento da Aids;, reconheceu Temporão. O aumento do percentual de relações casuais com mais de cinco parceiros, que pulou de 4%, em 2004, para 9,3%, em 2008, é outro dado que também preocupa as autoridades do país. ;Precisamos redobrar a disseminação de informações, de educação, e disponibilizar mais preservativos. Nesse momento, negociamos a compra de 1 bilhão de preservativos para serem distribuídos em todos os estados. É necessário construir juntos, governo e sociedade, estratégias para combater a doença;, afirmou o ministro. Internet Entre todos os entrevistados, 7,3% disseram ter conhecido pelo menos um parceiro via internet nos últimos 12 meses. No público jovem (15 a 24 anos), o percentual chegou a 10,5%. O indicador vai caindo conforme aumenta a idade: 5,4% na faixa etária de 24 a 49 anos, e 1,7% na população de 50 a 64. ;Você acha que a velhinha tá lá fazendo crochê? Ela já tá ligada na internet, conectada;, brincou Temporão. Depois do breve momento de descontração, o ministro reconheceu que a utilização da rede mundial de computadores para conhecer novos parceiros vai exigir do governo novas abordagens. ;Serão necessárias estratégias inéditas para lidar com essa realidade em espaços como sites de relacionamento, blogs e salas de bate-papo;, adiantou. Mesmo esbanjando charme e sensualidade, a estudante de turismo Vanessa Santos Silva, 25 anos, afirmou já ter marcado encontros pela internet. ;Isso foi há alguns anos, mas nunca cheguei a transar com ninguém;, declarou a jovem, que apesar de não ter um namorado, ;fica; com um rapaz há quase dois anos. ;É um ficante sério. Por isso, só usei camisinha na primeira relação;, admitiu, mesmo ciente de todos os riscos. ;Sei que, além da Aids, o sexo desprotegido pode trazer outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como sífilis e gonorreia. Já fiz exames e sei que estou limpa.; Natural de Salvador, Vanessa recebeu todas as orientações sexuais de uma tia. ;Foi essencial para a minha formação.;
Informação não falta Noventa e sete por cento dos moradores do Centro-Oeste sabem que a camisinha é a melhor forma de prevenção em relação à Aids ; a média nacional é ligeiramente menor, 96,6%. A região também está acima (81,1%) do percentual total (77%) de pessoas que tiveram relações sexuais nos últimos 12 meses. Nesse período, apenas 9,6% da população regional declararam ter tido mais de cinco parceiros casuais e pelo menos 60,2% dos moradores disseram ter usado preservativo no último ato sexual com parceiros casuais. Entre os jovens, o uso da camisinha na primeira relação sexual atingiu 64,4%. ;O Brasil tem um dos maiores índices de informação do mundo. Não só que o HIV é transmitido por via sexual, mas também que a camisinha é uma forma segura de prevenção da infecção. À medida que a relação progride, diminui o uso do preservativo, em todas as faixas etárias. Existe uma geração que sentiu o peso da Aids, como nas décadas de 1980 e 1990, e outras que não sentiram na pele o poder devastador da doença;, lembra Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde. (RC)

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