postado em 26/06/2009 16:58
Cerca de 40 famílias de sem-teto foram retiradas, hoje (26), de um prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ocupado desde segunda-feira (22), na Avenida Mem de Sá, no centro da capital fluminense. Houve confronto com a polícia e quatro pessoas foram detidas pela Polícia Federal.
A operação contou com apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar, convocado para apoiar o cumprimento do mandado de reintegração de posse, expedido pela Justiça. Para entrar no prédio, retirar os moradores e conter os manifestantes, os policiais utilizaram cacetetes, bombas de efeito moral e gás de pimenta.
O prédio estava abandonado há cinco anos. Nós estávamos na rua e decidimos ocupá-lo. Não tinha necessidade disso [confronto]. Podíamos negociar, contou uma das desalojadas, Sílvia Regina. Sou trabalhadora, sou casada e estou grávida. Até cheguei a me machucar. Agora, estou novamente na rua.
A Defensoria Pública do estado, que acompanhou a ação policial e propunha um acordo pacífico, disse que a operação foi intransigente. Os defensores também criticaram a ausência do Conselho Tutelar e de uma ambulância para amparar possíveis feridos.
Nossa proposta era reunir, na próxima segunda-feira [29], todos os órgãos da prefeitura e do estado, além do INSS para dar uma solução de moradia. No entanto, a PM, a PF e os oficiais de justiça não aceitaram, afirmou o defensor Alexandre Mendes. Isso [a reintegração] foi feito da pior forma possível. Inclusive eu fui atingido por bombas de pimenta, contou.
O tenente-coronel Antônio Henrique Oliveira, lotado no 13° Batalhão de Polícia Militar, coordenador da operação, negou eventuais excessos e disse que a operação não deixou feridos. Apoiávamos a Polícia Federal. Não houve condições deles agirem sozinhos, eram apenas oito agentes e pediram para que desobstruíssemos a porta. Fizemos isso com armas não letais.
Os comerciantes da Avenida Mem de Sá afirmaram que também foram atingidos pelas bombas de pimenta e tiveram de fechar as portas. Eles jogaram o gás na nossa frente, derrubando prateleiras e tudo. Começamos a passar mal e tivemos que fechar tudo, disse a vendedora Andréa Cavalcante.
A prefeitura informou que as famílias desalojadas estão sendo acompanhadas pela Secretaria de Assistência Social, mas que não aceitam ir para um abrigo. Não queremos ir para abrigo. Temos nossas coisas, queremos uma casa permanente, explicou a desalojada Silvia Regina.
De acordo com os representantes dos sem-teto, cerca de 150 mil famílias não têm onde morar no Rio, enquanto 250 prédios estariam desocupados ou abandonados na cidade. A prefeitura não sabe quantos prédios estão vazios, mas confirma o déficit de 350 mil moradias.
As famílias desalojadas, hoje, moravam há pelo menos três anos em um edifício invadido na Rua Gomes Freire, no centro. O prédio pegou fogo no mês passado e foi interditado pela Defesa Civil.