postado em 02/07/2009 08:51
Na internet, a cura da gripe que assusta o mundo inteiro está a um clique. Sites prometem - com receitas malucas e caras - a solução de uma pandemia que nem mesmo os mais eficientes organismos conseguiram. Para usar uma expressão popular, é o indefectível "negócio da China". Aliás, vem de lá o chá natural oferecido pelo site Traditional Chinese Medicine. Especializado em produtos naturais, a empresa ampliou os efeitos do composto "natural, sem química e nem efeitos colaterais, formado por extratos high-tech" para tratar o vírus H1N1.
Nessa contaminada geografia da web, o açaí, fruta típica do Norte do país, virou "milagroso" no hemisfério Norte, depois que o Açai X3 apareceu no programa da apresentadora de televisão norte-americana Oprah Winfrey. As vendas pela internet aumentaram e as promoções não param. É possível fazer um "teste", pagando apenas a taxa de entrega de cerca de U$ 4 pelo composto de açaí. A promessa é aumentar a imunidade e, consequentemente, se proteger da gripe.
Xampus e sprays
O problema das falsas promessas embutidas em endereços "www" é tão grande que a Interpol divulgou um alerta sobre organizações criminosas que estão aproveitando o momento para vender medicamentos ilegais ou mesmo falsos. A Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, também se manifestou contra os produtos que juram ter respostas para diagnóstico, prevenção, tratamento e até cura. A FDA encontrou na rede purificadores de ar, suplementos alimentares, luvas, máscaras, testes e um equipamento eletrônico que, com energia fotobiótica e "um poder de penetração tão forte como o das ondas", promete aumentar a imunidade e prevenir os sintomas da gripe. Mas os absurdos não param por aí: há xampus, gel, sprays%u2026
A FDA divulga uma lista com páginas da internet que comercializam esses produtos. A orientação é de que mesmo que o site não esteja incluído, ninguém compre esses produtos. Outra recomendação é conferir se os produtos têm registro. A agência já comunicou alguns dos sites e pediu a retirada dos produtos.
Entre aqueles que seguem em busca dos internautas, está o site que vende cápsulas naturais do Flucinex. Na página consta até um aviso: "Devido à grande procura do produto, por conta da gripe suína, a taxa de entrega de um dia para o outro será acrescida de US$ 40". Do contrário, o prazo é de dois dias úteis. O produto custa US$ 29,95.A Anvisa informou que não recebeu nenhuma denúncia de produtos sendo vendidos na internet no Brasil e que por isso, ainda não divulgou nenhum alerta sobre o assunto.
No Orkut, há mais de 500 comunidades que falam da gripe suína. As pessoas aproveitam o espaço para trocar informações, tirar dúvidas e discutir, nos fóruns, formas de se prevenir. Não raro encontram e compartilham orientações equivocadas. Em uma comunidade chamada "Gripe Suína - Alerta a todos", informa que a nova doença pode ser transmitida por animais infectados - coisa que infectologistas têm desmentido com veemência, já que não há registro, por enquanto, de humanos que tenham sido contagiados por porcos ou outros bichos.
Palavra do especialista
Apenas um medicamento
"Não acreditem em fórmulas milagrosas. Na internet, vale tudo". Essa é a orientação do médico e professor da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Tauil. Segundo Tauil, apenas um medicamento, o Tamiflu, é usado no tratamento da gripe suína. Ainda assim, no Brasil, o produto só está disponível na rede pública e não pode ser usado sem orientação médica. A automedicação, explica o médico, pode levar à resistência de vírus e bactérias. Em caso de suspeita da doença, Tauil explica que é preciso acompanhar a evolução dos sintomas, como febre, tosse, coriza, e procurar o Sistema Único de Saúde (SUS) caso a pessoa se encontre no grupo de risco.
Promessas na rede
- Xampu para evitar a contaminação pelo vírus
- Pílulas diárias que protegem crianças e adolescentes
- Suplemento que cura a gripe suína em, no máximo, oito horas
- Spray que produz uma camada de ions e mata o vírus
- Equipamento eletrônico que usa energia fotobiótica para aumentar a imunidade e prevenir os sintomas associados à gripe suína
Fonte: Food and Drug Administration (FDA)
Sem condições de fiscalizar
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, reconheceu que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não tem condições de fiscalizar as pessoas que chegam ao país por vias terrestres. "A Anvisa tem limitação de pessoal disponível e é evidente que algumas falhas podem acontecer", admitiu. Até por isso, o Ministério da Saúde decidiu fechar uma parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para abordar todos os viajantes. Segundo o ministro, os passageiros que passam pela fronteira devem ser abordados por agentes federais, que entregam um folheto sobre os sintoma da influenza A (H1N1).
Ontem, 14 novos casos de gripe suína foram confirmados pelo Ministério da Saúde. Boletim divulgado no fim da tarde informou que foram cinco casos no Rio Grande do Sul, quatro em São Paulo, três em Minas Gerais, um no Maranhão e um no Rio de Janeiro. Ao todo, já foram registrados 694 casos de infecção pelo vírus influenza A no país, com uma morte. Desse total, 428 (61,7%) foram de pessoas que se infectaram no exterior e 176 (25,4%) de transmissão ocorrida dentro do território nacional. Outros 90 casos estão em investigação.
O Brasil é o terceiro país da América do Sul em número de casos. Perde apenas para Chile e Argentina. Esse último registra o maior índice de letalidade. Pelo menos 43 pessoas morreram por conta da doença.