postado em 08/07/2009 19:01
As políticas de assistência social para pessoas que vivem nas ruas devem dar prioridade ao tratamento de usuários de drogas. A avaliação é do educador social Jefferson Ferreira, de 24 anos, que passou boa parte da infância e da juventude nessa situação, mas conseguiu se recuperar em um abrigo católico que oferecia tratamento para dependência química.Hoje (8/7), na abertura da 7; Conferência Municipal de Assistência Social, Ferreira falou sobre a situação de abandono em que viveu durante 12 anos, após a morte da mãe. Ex-usuário de drogas, ele apontou deficiências na recuperação oferecida na rede municipal, como a discriminação e a falta de perspectivas nos abrigos públicos.
;O sistema de abrigos tem que mudar totalmente. É preciso trabalhar firme o tratamento para dependência e o atendimento psicológico;, destacou Ferreira. ;O morador de rua está com o psicológico destruído. Há muitas crianças que eram espancadas pelos pais, outras estupradas, abandonadas, além das que roubam para levar dinheiro para casa. A cabeça dessas pessoas fica ;baratinada; e, ao deparar, com as drogas, fica complicado.;
As declarações de Ferreira fazem parte do objetivo de incentivar a participação dos usuários do sistema de assistência social na consolidação e avaliação dessas políticas, um dos objetivos do conferência municipal, que reunirá até amanhã (9/7) cerca de 550 pessoas, entre usuários, gestores, especialistas, além de organizações não governamentais (ONGs).
De acordo com a presidente do Conselho Municipal de Assistência Social, Danielle Reis, a participação dos usuários é fundamental para implementar uma rede de assistência de qualidade. Ela informou sobre um levantamento, realizado em dez regiões do Rio, antes da conferência, que aponta, por exemplo, a falta de informação como um dos problemas.
;Queremos que o usuário da política não seja tutelado. Ele deve ser protagonista na construção das medidas que o atenda, junto com os trabalhadores e com o governo. Os usuários são os beneficiados, eles têm que ter conhecimento sobre seus direitos;, reforçou.
O secretário municipal de Assistência Social, Fernando William, também destacou a necessidade de incluir os usuários, e não apenas especialistas e gestores, nos debates. Ao falar sobre o problema do uso de crack (droga ilegal obtida pela mistura de cocaína e bicarbonato de sódio ou amônia) por crianças cada vez mais jovens, no Rio, chamou a sociedade para entrar no debate. ;Muitas pessoas querem sair dessas condições, mas vão para onde, sem emprego, sem casa, sem nada?;.
William também culpou a falta de integração entre os governos, nos últimos anos, pela deficiência da rede de assistência, na capital fluminense. Ele reconheceu que a área ainda precisa de recursos, mas ressaltou que a prefeitura trabalha para ampliar os serviços. ;Estamos iniciando um governo e as coisas começam a mudar;.
A secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Arlete Sampaio, que participou da abertura, disse que o governo federal pretende oferecer ajuda aos municípios por meio de um projeto de combate ao abuso de crack, articulado com vários setores do governo. Segundo ela, o consumo da droga tem provocado inúmeras vítimas em diversas cidades do país.
;Estamos ainda definindo as cidades que vão ser pilotos do projeto voltado para o acolhimento dessas crianças e adolescentes, para que possamos reconstruir seus vínculos familiares e comunitários e oferecer oportunidades de estudar, de participar de atividades culturais e esportivas, por exemplo;, afirmou Arlete.
A conferência municipal é uma das etapas obrigatórias para a participação na Conferência Nacional de Assistência Social, que será realizada em Brasília, no final do ano. O encontro, que ocorre a cada três anos, terá como tema a Participação e Controle Social no Sistema Único de Assistência Social.