Insatisfeitos com a aparência, os adolescentes brasileiros vêm procurando cada vez mais os cirurgiões plásticos. O público de 14 a 18 anos já representa 13% das 629 mil intervenções operatórias ocorridas por ano no país, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) realizada com 3.533 profissionais, entre setembro e dezembro do ano passado. Em levantamento similiar concluído em 1994 pela SBCP, essa faixa etária era responsável por 5% das 100 mil cirurgias realizadas no território nacional. Em 14 anos, o percentual cresceu 8%. Especialistas ouvidos pelo Correio atribuem o aumento a novas técnicas, redução de preços, transformações psicológicas e físicas típicas de uma fase de transição, além da influência da televisão. As mudanças físicas da faixa etária são apontadas por Diana Dadoorian, psicóloga do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como uma das explicações para o desejo de recorrer às plásticas. ;Como eles estão entrando na fase reprodutiva, o corpo fica diferente e sem equilíbrio. E, na tentativa de ter domínio e querer ser desejado, surge a vontade de se submeter a uma plástica. É preciso cautela ao optar pela cirurgia.; As cirurgias mais procuradas pelos adolescentes são a rinoplastia (de nariz), mamoplastia redutora (diminuição das mamas), mamoplastia de aumento (prótese de silicone), lipoaspiração, correção de orelhas (otoplastia) e ginecomastia (correção do volume das mamas masculinas). O custo de cada procedimento varia de R$ 6 mil a R$ 15 mil, a depender da técnica e do médico. Há um ano, a estudante do 3; ano do ensino médio Mariana Fiuza, 17 anos, decidiu colocar próteses de silicone, 195 ml em cada mama. Apesar de o desejo ter sido prontamente atendido pela mãe, a funcionária pública Edmê Neves, 46 anos ; que também já turbinou os seios ; o pai, Itamar, foi contra. ;Meu sonho era colocar 250 ml em cada mama, mas minha mãe disse que podia dar estrias, por isso optei por quantidade menor;, confidencia Mariana. O procedimento custou cerca de R$ 6 mil. ;Estou no auge da juventude e vou aproveitar. Foi ótimo para minha autoestima;, diz a jovem. Influências Os padrões estabelecidos pela televisão, cinema e revistas também são citados como influências para os mais novos optarem por intervenção cirúrgica. ;Bombardeados por uma série de informações, os adolescentes não querem ser diferentes dos artistas, que exibem corpos perfeitos, resultado de horas em academias, dietas e cirurgias. É preciso estar consciente dos riscos e se submeter aos procedimentos invasivos somente em casos necessários;, orienta o cirurgião plástico Ognev Cosac, presidente da SBCP do DF. A SBCP proíbe que os profissionais divulguem fotos do pré e pós-operatório. ;O resultado de um paciente pode não ser o mesmo atingido por outro;, avisa o cirurgião Múcio de Castro. ;As pessoas acham que trabalhamos com varinha de condão. Somos profissionais da medicina, não artistas. Cirurgia não é milagre.;
Depoimento da estudante Mariana Fiuza