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Para PCdoB, militares têm que ser ouvidos sobre Araguaia

postado em 13/07/2009 18:09
A operação formada no Araguaia, sob comando do Ministério da Defesa, pode não ter resultados satisfatórios devido à inconsistência dos dados que servem de base para o levantamento. A opinião é do ex-deputado Aldo Arantes, representante do PCdoB no grupo de trabalho, que acompanha a operação, que tem por objetivo procurar ossadas e despojos de guerrilheiros desaparecidos.

;Há excelentes profissionais envolvidos na busca. Trata-se de uma equipe altamente especializada. No entanto, o levantamento tem sido feito em cima de pontos indicados pelo Ministério da Defesa, que se baseou em documentos e relatórios de expedições realizadas anteriormente. São dados que considero inconsistentes. São dados muito genéricos;, destacou.

Aldo Arantes defendeu que o governo ouça os militares que participaram da fase final da guerrilha e que poderiam indicar, com mais precisão, os locais onde foram deixados corpos. ;Tenho defendido nas reuniões que, para que o trabalho tenha resultado, é indispensável ouvir os militares que participaram da fase final da guerrilha do Araguaia. Principalmente os militares que participaram da chamada Operação Limpeza;, considerou Aldo Arantes, que está em São Domingos do Araguaia (Pará), acompanhando a fase de reconhecimento dos locais que, em agosto, deverão ser explorados pelo grupo de trabalho.

Arantes ainda defendeu a participação de integrantes da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, no Comitê Interinstitucional criado pelo Ministério da Defesa para supervisionar o grupo de trabalho. Na semana passada, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, considerou que a participação de representantes das famílias não poderia ser admitida. O ministro disse que tal participação seria ilegal, na medida em que os parentes são parte no processo em que a União foi condenada a realizar as buscas em 120 dias.

Para Arantes, a não participação de parentes de guerrilheiros na comissão não tem razão de existir. ;Até para que o resultado do trabalho seja respeitado pela sociedade, ele deve ser acompanhado por segmentos organizados. A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos tem que ser respeitada como entidade. Seria bom que entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e outros segmentos também participassem, como o PCdoB está participando;, destacou.

;Sem a participação da sociedade e sem ouvir o que os militares que atuaram na última fase da guerrilha têm a dizer, corre-se o risco de cavar e não encontrar nada, ou encontrar muito pouco;, criticou.

A criação da operação para localizar mortos da Guerrilha do Araguaia, chamada de Operação Tocantins, atende a uma determinação judicial para que o Estado brasileiro dê respostas sobre o assunto. A sentença da Justiça Federal determinou a quebra do sigilo das informações militares sobre todas as operações de combate à Guerrilha do Araguaia e que a União informe onde estão sepultados os mortos no episódio.

A operação inclui quatro fases e está agora na segunda fase, que inclui o levantamento dos locais onde técnicos irão realizar escavações em busca de ossadas e despojos. As escavações, de acordo com o cronograma divulgado pelo Ministério da Defesa, devem começar em meados de agosto. Na última semana, o grupo de trabalho fez o reconhecimento de áreas próximas a Marabá, no sudeste do Pará.

Hoje (13/7), o grupo se encontra no município de São Domingos do Araguaia, a 52 quilômetros de Marabá. Ainda neste mês, serão realizados levantamentos em mais dois pontos: em São Geraldo Araguaia e em Xambioá, ambos no Tocantins. A região fica entre os rios Araguaia e Tocantins e é também denominada Bico do Papagaio.

A Guerrilha do Araguaia foi um movimento contrário ao regime ditatorial, organizado pelo Partido Comunista do Brasil no início da década de 1970. Oficialmente, não há números de quantas pessoas morreram nas ações do Exército com o objetivo de desmantelar o movimento. O PCdoB estima que existem mais de 60 mortos. Relatos de militares que participaram da repressão, como é o caso do coronel Sebastião Curió, conhecido como Major Curió, já falam em pouco mais de 40.

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