postado em 15/07/2009 09:42
Quando a Influenza A, conhecida como gripe suína, começou a se espalhar pelo mundo e chegou ao Brasil, o governo anunciou R$ 129 milhões para combater o novo vírus. A medida provisória que dividiu o dinheiro entre seis ministérios e a Presidência da República foi editada em 20 de maio.
O problema é que a verba tem sido utilizada a conta-gotas. Até agora, menos da metade foi empenhada - quando o órgão assume o compromisso de usar o recurso - e apenas R$ 8,4 milhões (6,5%) foram, de fato, liberados: a maior parte para custear as campanhas publicitárias de orientação sobre a doença.
O levantamento foi feito pela Associação Contas Abertas no Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal (Siafi). O Ministério da Saúde, a quem coube R$ 102,4 milhões da verba, empenhou R$ 62,4 milhões. Mas até agora só liberou mesmo R$ 8,2 milhões, sendo que 97% desse montante foram para pagar a empresa de publicidade responsável pela campanha de orientação, classificada como "serviço de utilidade pública".
O restante foi usado em diárias e locomoção de funcionários que estão ajudando na fiscalização em portos e aeroportos, assim como os R$ 217 mil pagos pelo Ministério da Defesa que também saíram das verbas previstas na medida provisória.
Nos empenhos, o governo separou R$ 34,7 milhões para a compra do antiviral Tamiflu, usado no tratamento da nova gripe, R$ 1,5 milhão para a aquisição de reagentes usados nos exames que confirmam o vírus, R$ 1,1 milhão para materiais como álcool, luvas, aventais e jalecos. Outro drama: ainda não há previsão para a chegada desses materiais.
O ritmo de investimentos do governo para o combate à gripe divide especialistas. "Não acredito que o aumento do número de casos tenha ocorrido por falta de dinheiro. Até porque agora é que está começando a epidemia sustentada", avalia o infectologista Stefan Cunha.
Mas Nancy Bellei, também infectologista, diz que o governo poderia aproveitar a folga de recursos para investir em medicamentos e exames para confirmar a doença. "Foi um ponto falho restringir nesse momento os exames apenas a casos graves. Poderia ter investido na rede de laboratórios e isso não foi feito. O governo também poderia aplicar o dinheiro em remédios que têm sido usados como uma alternativa ao Tamiflu, para quem não pode usar essa medicação", enumera.
A Fundação Fiocruz confirmou que, mesmo com os laboratórios funcionando todos os dias da semana, não está mais conseguindo cumprir o prazo de 72 horas para a entrega dos resultados.
Os dois especialistas, no entanto, concordam num ponto: o governo precisa melhorar a publicidade. "Vejo ainda muitas pessoas com dúvidas sobre o que fazer aos primeiros sintomas", descreve Cunha.
O Ministério da Saúde informou, por meio de nota, que está recorrendo à cautela na aplicação dos recursos. De acordo com o órgão, em um cenário de pandemia, não há como prever a evolução da doença e, portanto, é necessário manter uma reserva emergencial.
A especialista discorda: "A questão é entender que, em epidemias, não se pode poupar dinheiro de uma etapa para gastar em outra. Ou o investimento lá na frente pode ser muito maior", critica Nancy Bellei, que integra o comitê de acompanhamento da Influenza A da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Vítima é de São Paulo
Da Redação
A Secretaria de Saúde de São Paulo confirmou ontem à noite (14/7) a segunda morte de paciente infectado pelo vírus da gripe A (H1N1) no estado, a quarta em todo o país. Segundo o Hospital de Clínicas de Botucatu, o paciente era um homem de 28 anos que passou a apresentar febre, dor de cabeça e náuseas em 1º de julho.
A Secretaria informou que ele procurou o serviço médico no sábado, dia 4, e foi internado. Mas na terça-feira, dia 7, o quadro se agravou, o que o levou à UTI. A morte ocorreu no dia 10, sexta-feira.
O hospital informou que, durante a internação, foram investigadas doenças como pneumonia bacteriana grave, hantavirose, leptospirose, histoplasmose e, claro, a nova gripe. Aparentemente, o paciente teve contato com argentinos e chilenos que estiveram no Brasil.
Na segunda-feira, havia sido confirmada a terceira morte pela gripe no Brasil, de um garoto de 9 anos, em Sapucaia do Sul (RS). Segundo o último levantamento do Ministério da Saúde, divulgado na sexta-feira, são 1.027 registros da doença, mas esse número certamente já é maior.
Traumatizado com a morte do filho, o morador de Sapucaia do Sul reclamou muito dos órgãos de saúde do estado pela maneira como o episódio foi conduzido. Ele disse que não recebeu nenhuma informação ou explicação da Secretaria de Saúde. "Só mandaram colocar a máscara. Hoje (segunda), anunciaram a confirmação da morte por gripe para todo o mundo e só depois me ligaram para me dizer. Isso não se faz".
Pelo mundo
URUGUAI
A ministra da Saúde do Uruguai, María Julia Muñoz, anunciou ontem que até o momento há 12 casos oficiais de óbitos pela nova gripe no país, mas de acordo com Muñoz, é bem provável que o número de infectados seja muito maior do que o registrado. O laboratório que fabrica o remédio contra a gripe informou que ontem se completaria a distribuição em todo o Uruguai das doses de Tamiflu que chegaram nas últimas horas ao país. As reservas haviam se esgotado na última semana.
TAILÂNDIA
Voluntários fantasiados de super-heróis iniciaram a semana participando de uma campanha de prevenção à gripe suína em Nonthaburi, na periferia de Bangcoc, capital da Tailândia. O objetivo era promover o uso de máscaras para prevenção do contágio e mostrar às crianças que mesmo os heróis precisam se proteger. De acordo com a OMS, 429 pessoas já morreram em todo o mundo.
ALEMANHA
A Alemanha estuda a possibilidade de vacinar quase um terço de sua população contra o vírus da gripe suína, segundo informou o Ministério da Saúde alemão, depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou que a pandemia já não pode ser detida. O governo alemão quer adquirir 25 milhões de doses da vacina, que serão ministradas prioritariamente a trabalhadores da saúde, policiais, bombeiros e técnicos responsáveis de serviços essenciais. Mulheres grávidas e doentes graves também terão prioridade na imunização.
BRUNEI
Até no aniversário do sultão Hassanal Bolkiah, a máscara contra a gripe A H1N1 não foi dispensada. Um garoto estava usando durante a cerimônia, já que o país também sofre com o avanço do vírus. Diversos eventos que se realizariam por causa do aniversário do sultão foram adiados devido à gripe.