Rodrigo Couto
postado em 17/07/2009 08:53
Se a legislação ambiental fosse cumprida à risca, pelo menos três milhões dos cerca de cinco milhões de produtores rurais do paÃs seriam punidos por infringir alguma norma entre os mais de 16 mil atos que regulam o Código Florestal. Entretanto, a carência na fiscalização permite que a degradação do meio ambiente no Brasil continue crescendo em nÃveis alarmantes. E a polêmica em torno do modo como cuidamos dos próprios recursos naturais promete ficar ainda mais apimentada com as propostas de alteração da lei que tramitam na Câmara dos Deputados. O tema vem provocando embates dentro do próprio governo e também no Congresso Nacional, entre ruralistas e ambientalistas. Apesar das opiniões divergentes, parlamentares ouvidos pelo Correio acreditam num acordo que possa aliar o desenvolvimento da produção rural à preservação dos biomas.
Defensor das alterações na lei, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, diz que a aplicação do atual código, na Ãntegra, tornaria inviável a sustentação de importantes polos de produção do paÃs. E o ministro é cauteloso ao comentar o assunto. "Tenho procurado tratar do tema com simplicidade, racionalidade e em cima de bases cientÃficas", argumenta.
No entanto, Stephanes admite que algumas das mudanças na legislação ambiental, propostas pelo próprio Ministério da Agricultura, são polêmicas. Um dos temas que gera calafrios nos ambientalistas é o que diminui as áreas de proteção e preservação e ainda anistia produtores rurais que tenham degradado a natureza. "Modernizar o Código Florestal significa diminuir todas as proteções ao meio ambiente do paÃs. As matas ciliares (sistemas que funcionam como reguladores do fluxo de água) serão atingidas drasticamente, o que pode representar um grande risco ao ecossistema", alerta Raul Du Valle, coordenador-adjunto do Programa de PolÃtica e Direito do Instituto Socioambiental.
Irracionalidade
Com a justificativa de que a lei não é contemporânea, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) também defende a discussão com embasamento cientÃfico. "Falta sensibilidade cientÃfica e polÃtica. Os governos fizeram graça com a legislação ambiental, e não falo somente do governo do presidente Lula. Isso vem se arrastando há anos no Brasil", critica a parlamentar, que preside a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). Para ela, os estados deveriam legislar sobre questões ambientais - hoje, prerrogativa da União.
Ouça entrevista com a senadora Kátia Abreu