Brasil

Crianças que tiveram contato com drogas precisam de tratamento e muito carinho

Ingrid Furtado
postado em 19/07/2009 08:51
As mãos que tratam também ajudam a levantar a autoestima e a segurança de um jovem viciado em drogas. Muito mais do que a formação acadêmica de profissionais e voluntários de casas de tratamento, o carinho e a atenção precisam ser os elementos principais para conquistar a confiança dos adolescentes, em um contexto em que o número de jovens dependentes cresce ano a ano, na mesma proporção em que cai a faixa etária em que eles têm contato com entorpecentes. Quem afirma é o presidente da organização não governamental Projeto de Vida, Giovanni Alexandre Silva, que coordena a Casa do Adolescente, no bairro Inconfidentes, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A entidade tem vaga para 15 meninos e se mantém graças a doações e ao convênio com o governo estadual. Giovanni é chamado de pai pelos garotos. A mãe dessa turma é a coordenadora da unidade, Graciana Fulgêncio. Mais que parentes, são tidos como anjos na vida desses meninos - todos dependentes químicos. Quem entra na casa - arejada e muito bonita - não duvida que os jovens sejam mesmo filhos dos dois profissionais, justamente pela reverência e respeito com que são tratados. Sentimentos que não derivam apenas do carinho. Graciana conta que é rigorosa com os limites e responsabilidades dos adolescentes e vistoria a arrumação até dos guarda-roupas."As regras são importantes para que eles criem uma organização de vida também. Conversamos com eles sobre isso e eles aceitam tranquilamente. São meninos espertos, com forte espírito de liderança, mas a maioria tem famílias desagregadas. Há aqueles que apresentam muita dificuldade em aceitar um abraço, pois não sabem o que é carinho", diz. Giovanni conta que a maioria deles começou a usar drogas entre os 8 e os 11 anos. E destaca que os desenhos feitos pelos meninos revelam o prazer que não tiveram durante a infância perdida. Atrativos Atividades como colorir, que encantariam crianças bem menores, são atrativos muito apreciados por esses garotos, que têm 14, 15, 16 anos. "Eles adoram brincar de carrinho e amam desenhar. Acabamos de adotar uma cadela que virou o mimo da casa. Com essas atitudes, percebemos que eles chegaram à adolescência somente pela idade, mas não pela alma. Tentamos criar um laço afetivo e desenvolvemos isso neles. É assim que começam a reconstruir a infância, pois percebem o quanto perderam", afirma o presidente da ONG. O psicólogo do Centro Psíquico da Adolescência e Infância da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Cepai/Fhemig), Bruno Curcino Hanke, afirma que nem sempre os problemas são transparentes. "Muitos acham que uma criança vai se envolver com drogas apenas em casos extremos, em questões graves familiares. Mas não é bem assim. Por isso é tão importante que a família esteja atenta e perceba a criança. Geralmente, se livrar da droga é difícil, pois as pessoas encontram nela uma forma de preencher um afeto, desilusão ou uma frustração insuportável", diz. CRACK NA VEIA Miguel, de 14 anos, sabe bem o que é o cenário nebuloso que os profissionais descrevem quando se referem ao processo de recuperação de uma criança que se tornou dependente química. Ele começou a se drogar aos 9 anos. Consumia maconha, cigarro e crack. A dependência foi tamanha que chegou a fazer uma solução com as pedras de crack para aplicar na veia. Não demorou a traficar para sustentar seu vício. Com sérios problemas familiares, ele mora em abrigo desde 2005. Lá, precisa tomar cinco remédios controlados, já que a parte neurológica ficou comprometida.

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