Rodrigo Couto
postado em 21/07/2009 09:05
O aumento do número de mortos em decorrência de gripe A (H1N1) - que passou de 11 para 15 em um intervalo de três dias - e a confirmação de que a transmissão no Brasil já considerada e sustentada levaram o Ministério da Saúde a anunciar ontem uma nova campanha publicitária para esclarecer os brasileiros sobre as formas de contágio, transmissão e tratamento da enfermidade. Com custo estimado em R$ 5 milhões, a estratégia, segundo a pasta, atende as informações coletadas em pesquisa realizada em 4 e 6 de julho com 802 pessoas de todo o paÃs.
Depois que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, confirmou a circulação do vÃrus da influenza A, também conhecido como gripe suÃna, em território nacional, a notÃcia provocou uma corrida da população aos postos e hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS).
Desde sexta-feira, um dia depois do anúncio do ministro, houve um aumento nos atendimentos hospitalares. "Apesar de todo o esforço do governo para esclarecer sobre a nova gripe, esse aumento de procura nos hospitais é uma prova de que estamos errando na estratégia. Precisamos chegar mais perto da população. Ainda existe um grande medo em relação à doença", reconhece a infectologista Eliana Bicudo.
[SAIBAMAIS]
Além da corrida aos hospitais e postos de saúde, a notÃcia de que o vÃrus da gripe suÃna já circula em território nacional também aumentou a procura pelas máscaras (leia tira-dúvidas). Em BrasÃlia, a única farmácia da Rodoferroviária, terminal de transporte interestadual, teve o estoque de peças esgotado ainda na sexta-feira. "Depois que o ministro avisou que a gripe já estava no Brasil, todo mundo veio procurar as máscaras", diz Valter Fernandes, funcionário do estabelecimento.
Parte das 9 milhões de doses em pó do tamiflu (fosfato de oseltamivir) - medicamento usado para tratar a nova gripe - que o governo federal mantém em depósitos será transformada em 150 mil cápsulas até a próxima semana. "Até setembro, teremos mais 1 milhão de comprimidos para combater a doença", prevê Eduardo Hage, diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde.
Conforme o Correio antecipou na última sexta-feira, dos R$ 129 milhões liberados pelo governo a seis ministérios e a Presidência da República, menos da metade foi empenhada - quando o órgão assume o compromisso de usar o recurso - e apenas R$ 8,4 milhões (6,5%) foram, de fato, autorizados para gasto. A maior parte acabou destinada ao custeio de campanhas publicitárias de orientação sobre a doença.
O Ministério da Saúde, que recebeu R$ 102,4 milhões do total, empenhou R$ 62,4 milhões. Até a semana passada, só havia liberado R$ 8,2 milhões, sendo que 97% desse montante foram para pagar a empresa de publicidade responsável pela campanha de orientação, classificada como "serviço de utilidade pública". O levantamento foi realizado pela Associação Contas Abertas no Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal (Siafi).
Novo protocolo
Ao lado de representantes de Estado do Mercosul e de ministros de pastas sociais, José Gomes Temporão participa de um encontro na quinta (23/7) e na sexta-feira (24/7) para definir, entre outros assuntos, o novo protocolo da doença para a região. "A partir dos modelos adotados por todas as nações da área, devem ser estudadas a unificação dos parâmetros de tratamento e a investigação epidemiológica", informa Hage.
De acordo com ele, não é possÃvel mais trabalhar com taxa de letalidade da doença. "Devido à mudança de estratégia, que só prevê o tratamento e identificação dos casos graves, não temos mais um controle de todos os pacientes infectados pelo vÃrus. Em razão disso, não existe a possibilidade de afirmar a taxa de mortalidade", explica.
Ouça trecho da entrevista com Eduardo Hage, diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde