postado em 22/07/2009 08:00
Depois do avanço no combate à mortalidade infantil ; cuja taxa caiu de 58 óbitos, em 1990, para 22 a cada mil nascidos vivos ;, as autoridades brasileiras precisam se mobilizar para combater outro drama social que ameaça a vida das crianças no país: a violência. De cada mil meninos e meninas com 12 anos, dois serão assassinados antes de chegar aos 19. Os dados constam no Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), indicador apresentado ontem, em Brasília, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e pelo Observatório de Favelas. Estima-se que, se as condições sociais e de segurança não mudarem no país, 33 mil adolescentes terão morrido de forma violenta entre 2006 e 2012. Uma média de quase 400 por mês. ;São aproximadamente 22 aviões como o da Air France caindo anualmente;, compara Manuel Buvinich, coordenador de programas da Unicef, referindo-se ao acidente no Oceano Atlântico que vitimou 228 pessoas em 31 de maio.Segundo Buvinich, o dado causa pouco impacto porque as mortes não ocorrem de uma só vez. ;Talvez a informação mais preocupante desse indicador seja a verificação que, já aos 12 anos, a criança começa a ser vítima de violência letal;, afirma. O IHA cruza dados oficiais sobre variáveis como taxa de homicídios e população por idade e local de residência para estimar, num corte de mil adolescentes, quantos completam 12 anos mas serão assassinados antes dos 19. Ignácio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que trabalhou na elaboração do indicador, traçou o IHA de todos os municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes (veja quadro).
Entre os 10 municípios mais violentos, cinco encontram-se na Região Sudeste. Três estão no Espírito Santo ; Cariacica, Linhares e Serra. Pernambuco também aparece em duas posições, com Olinda e Recife. O que mais chamou a atenção dos pesquisadores, no entanto, foi a presença de Maceió (AL), em 10; lugar na lista de municípios, e em primeiro no ranking de capitais mais violentas.
Capital federal
Brasília aparece na lista de municípios na 129; posição. Na de capitais, está em 17;, com IHA de 1,7 adolescentes, patamar menor que a média nacional, que é de 2. A estimativa, segundo o estudo apresentado ontem, é que, num período de sete anos, 567 meninos e meninas de 12 a 19 anos sejam mortos na capital federal. Para Mariana(nome fictítio), que mora num bairro pobre do Distrito Federal, a violência ocorre diariamente e levou, há cerca de um mês, seu sobrinho de 14 anos. ;Ele estava em casa quando dois homens chegaram e dispararam seis tiros nele;, lembra a mulher, que teme ter o nome publicado por conta de represálias. ;Já mandaram avisar que se formos atrás de providência, matarão gente da nossa família. Minha irmã se mudou daqui de tanto desgosto.;
Risco maior entre negros da periferia
Responsável por 45% das mortes de adolescentes entre 12 e 19 anos no país, os homicídios são mais frequentes entre homens, negros e moradores de periferias urbanas. Para se ter ideia, o risco de meninos serem vítimas de violência fatal é 11 vezes maior que o de meninas. Os negros têm quase três vezes mais chances de morrerem assassinados em relação aos brancos. Tais estimativas constam no estudo que apresentou o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), ontem, em Brasília.
No ranking dos municípios mais violentos do país, segundo o IHA estimado, Luziânia (GO) está em 15; lugar. A 56km de Brasília, a cidade goiana tem um índice de 5,4 adolescentes assassinados antes de completar 19 anos ; mais que o dobro da média nacional (2). A prefeitura de Luziânia informou que não havia ninguém disponível para comentar o assunto. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás não retornou o contato.
No caso de Foz do Iguaçu (PR), apontado como o município com maior IHA do país, o governo estadual reagiu. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná critica o estudo e alega que o número de homicídios de adolescentes caiu 36,7% em Foz do Iguaçu entre 2006 e 2009. Ignácio Cano, pesquisador da Uerj que ajudou a elaborar o indicador, explica que os dados utilizados no estudo se referem aos mais atualizados disponibilizados pelo Ministério da Saúde sobre mortes no Brasil. (RM)