Brasil

Vírus da gripe suína perto demais das capitais brasileiras

São Paulo confirma seis mortes em decorrência do vírus A (H1N1). Em Brasília, pacientes do HRAN reclamam da falta de informações

postado em 22/07/2009 08:34
Em apenas um dia, o número de mortes confirmadas em decorrência do vírus A (H1N1) no Brasil aumentou mais de 40%, saltando de 15 para 22, com o anúncio de seis óbitos em São Paulo e um no Paraná, o primeiro no estado. O dado, por si só, já faz do dia de ontem (21/7) um dos piores para o país desde que surgiram os primeiros casos de gripe suína em território nacional. E, de acordo com o infectologista e diretor do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, David Uip, a situação tende a piorar: "Temos de administrar o número de mortes que, infelizmente, vai aumentar." [SAIBAMAIS] O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, no entanto, reitera que o momento não é para pânico nem de corrida aos hospitais. E explica, em artigo escrito para o Correio, que "o fato de o Brasil não ter medido esforços para retardar a circulação do novo vírus evitou a proliferação de casos por mais de 80 dias." Se México, Argentina e Chile já foram considerados locais a se evitar, para fugir do vírus, os números de ontem e a confirmação de quatro mortes só na capital paulista mostram que os tais "locais de risco" começam a perder o sentido. Com isso, o país encara não só um total de 22 mortes, mas a certeza de que não há mais lugar livre da possibilidade de se contrair o vírus. No Rio Grande do Sul, ainda sem saber ao certo como lidar com a doença, alguns municípios mesclam medidas como decretar situação de emergência ou cancelar festas e antecipar férias. Em São Paulo, o secretário de Saúde, Januário Montone, reconhece que o nível de atendimento da rede é preocupante, "embora, nesse momento, esteja suportando". E em Brasília, onde a procura pelos postos de saúde e hospitais cresce na mesma medida em que aumenta o número de casos no país, a desorganização, mesmo em um centro de referência como o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), preocupa os pacientes. Para completar o quadro, ontem, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou que o vírus já matou mais de 700 pessoas em todo o mundo, em mais uma prova de que a gripe, há algum tempo, não escolhe mais vítima ou local. Espera sem fim e desinformação Embora seja o centro de referência para a gripe suína na capital do país, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) ainda é sinônimo de transtorno para pacientes com sintomas da nova doença. Confusos com as mudanças nos protocolos, os funcionários têm dificuldades para dar informações. E o tempo médio de espera pelo atendimento invariavelmente passa de três horas. Os transtornos não poupam nem quem apresenta sintomas como febre alta e seguiu as orientações do Ministério da Saúde - caso de Iara Mendonça, 38 anos. Ela gerencia um restaurante no Lago Sul e todos os dias tem contato com pessoas que chegam do exterior. Iara notou os primeiros sintomas de gripe na semana passada e procurou o posto de saúde do Núcleo Bandeirante no sábado. "Estava com mais de 38º de febre e falta de ar. A médica descartou as outras gripes e me encaminhou para o Hran. No posto, fui atendida na hora. Mas, aqui, fiquei nove horas no banco de espera. Não consegui a consulta e tive que ir para um hospital privado", conta. Segundo Iara, o médico particular fez um tratamento paliativo, mas informou que ela só receberia a medicação completa no centro de referência. "Nesta terça, piorei muito, tive vômito e diarreia, e resolvi tentar de novo", afirma a moça, que chegou ao local às 15h de ontem e às 18h ainda aguardava ser chamada pelo médico. Os pacientes com suspeita da nova gripe que procuram o Hran voltaram a ser atendidos em um local separado. Na semana passada, o Correio mostrou que eles aguardavam na emergência, com todos os demais pacientes. Agora, ficam em uma área ao lado da obstetrícia, por onde frequentemente passam gestantes. Mas nem os funcionários estavam bem informados sobre a mudança. "Quando chegamos, disseram que era para preencher uma ficha na emergência. Mas lá, os funcionários do balcão não sabiam que a área de espera mudou", descreveu a bibliotecária Sônia de Paula, 62 anos, que está com sintomas da gripe. De acordo com a chefia de equipe do Hran, o atendimento é feito separadamente apenas na parte do dia, e à noite os pacientes com suspeita da nova gripe ficam na sala de espera comum. A assessoria de imprensa do hospital não soube confirmar a informação. A sub-secretária de Vigilância à Saúde do Distrito Federal, Disney Antezana, diz que não há problema em manter os pacientes com suspeita de gripe na sala de espera comum, desde que eles usem máscara. Ela informou ainda que a recomendação para os postos de saúde é fazer a medicação e só encaminhar ao Hran casos de doença respiratória aguda grave, mas reconhece que tem havido falhas. "Como é um processo novo, eventualmente um profissional pode não estar tão atualizado e encaminhar para o Hran sem necessidade", justifica. Remédios O Ministério da Saúde recebeu ontem o primeiro lote de 50 mil kits do antiviral Tamiflu, usado no tratamento dos infectados pela nova gripe. O carregamento vai reforçar os estoques dos 68 hospitais de referência em todo o país. Cada kit é suficiente para tratar uma pessoa. Mas o remédio só tem sido aplicado em pacientes graves, para evitar que o vírus crie resistência. O governo encomendou 800 mil unidades. Outro lote com 50 mil chega até 15 de agosto e o restante até o fim de setembro. (DM) Previsão pessimista São Paulo - Com o anúncio de mais seis mortes de pacientes que contraíram a gripe suína no estado de São Paulo, a população da maior cidade do país passou a demonstrar nas ruas o medo de contrair a doença. Nas principais avenidas da capital, no metrô, no aeroporto e na rodoviária o uso de máscaras é cena comum. No balcão das maiores farmácias, os consumidores fazem fila para comprar álcool em gel com o objetivo de fazer a higiene das mãos. O receio de pegar a nova gripe aumentou porque a Secretaria Estadual de Saúde anunciou ontem à tarde que as mortes já chegam a nove em todo o estado. O total de mortes registradas em São Paulo representa mais de 40% de óbitos em todo o país. A sexta morte do dia foi confirmada no fim da noite de ontem pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Osasco (SP) - a terceira na cidade. Segundo a prefeitura, tratava-se de uma moça de 23 anos que estava em coma há uma semana e já havia sido diagnosticada com a nova gripe. O diretor do Hospital Emílio Ribas, David Uip, alertou que a população deve mesmo se proteger, pois - ele acredita - o número de casos vai aumentar nos próximos dias em todo o Brasil, assim como o número de mortes. "A nossa preocupação, agora, é administrar as complicações nos pacientes que estão com a gripe. A situação é complicada e constrangedora", ressaltou Uip. (UC)

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