postado em 25/07/2009 08:10
O já perigoso consumo de drogas lícitas e ilícitas entre os adolescentes pode se tornar ainda mais devastador se associado ao sexo ; doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e gravidez indesejada podem resultar dessa combinação, conforme mostra estudo do Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas (SP) e do Laboratório de Informações em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz). O levantamento aponta que 57,3% dos jovens do sexo masculino que declararam utilizar drogas não legalizadas afirmaram não usar preservativos. Entre os que nunca experimentaram substâncias psicotrópicas, esse percentual cai para 28,9% (leia quadro).A pesquisa concluiu que o consumo de entorpecentes pelos adolescentes do sexo masculino é um dos fatores decisivos no uso ; ou não ; da camisinha, enquanto que entre o sexo feminino a menor frequência de utilização de preservativos é explicada pelo fator cultural. ;Apesar das conquistas das mulheres em todos os setores, ainda é muito comum elas aceitarem as condições impostas pelos homens na hora do sexo;, afirma a pesquisadora Leilane Bertoni, uma das autoras do levantamento.
Meninos e meninas
Em relacionamentos casuais, de acordo com o estudo, 55,7% dos jovens usuários de drogas ilícitas (maconha e/ou cocaína) afirmaram usar preservativos em todas as relações sexuais. Já entre os que nunca provaram entorpecentes, o percentual passa para 65,4%. ;Entre os que têm parceiros fixos, o índice de uso de camisinha é maior no segmento masculino (60,9%) do que no feminino (42,3%);, explica Leilane.
O uso consistente de camisinha varia de acordo com a parceira. Entre os 1.307 adolescentes que relataram manter relações sexuais com parceiro casual, a utilização frequente de preservativo foi afirmativa para 63,7% dos homens (575) e 49,8% das mulheres (201). Quando foi analisada a parceria fixa, 60,4% (389) dos rapazes e 42,7% (208) das garotas admitiram usar camisinha. Em relação ao hábito de se proteger durante o sexo entre os que já haviam tido relações sexuais, tanto com parceiro fixo quanto com parceiro casual, as proporções foram de 58,4% (338) entre os meninos e de 43,5% (156) entre as meninas.
; Infância interrompida
Apesar de não terem participado do estudo, Luis*, 16 anos, e Amanda*, 15 anos, começaram a usar drogas por influência dos colegas da escola que estudavam. Sem nenhum parente, Amanda se prostituía na plataforma inferior da Rodoviária do Plano Piloto, centro de Brasília, para comprar crack. ;Era horrível. Se eu não fosse viciada, jamais faria sexo com vários homens para conseguir dinheiro;, lembra a menina, que vendeu o corpo dos 12 aos 14 anos. ;Com camisinha, eu cobrava R$ 50, mas, para não usar nada, pedia o dobro;, admite. ;Muitas vezes, quando cheirava cola, os traficantes se aproveitam e não usavam preservativos.;
Mesmo com as diversas relações sem proteção, a garota, viciada desde os 11 anos, afirma não ter praticado nenhum aborto e tampouco contraído doenças sexualmente transmissíveis.
Ao contrário de Amanda, Luis diz que nunca chegou a transar sem camisinha, mas afirma ter ficado com vontade de não se proteger quando fumava maconha. ;Teve uma vez que fiquei, em carga total, mas a menina tomou a iniciativa e colocou a camisinha.; Os dois adolescentes fazem tratamento para largar o vício no abrigo da ONG Transforme. Quem quiser ajudar a entidade pode entrar em contato pelo telefone 3468-7856. (RC)
* NOMES FICTÍCIOS PARA PRESERVAR A IDENTIDADE DOS ENTREVISTADOS