Ana Maria Campos
postado em 31/07/2009 08:40
Preocupado com a rápida transmissão da gripe A (H1N1), também conhecida como gripe suína, no Distrito Federal, a Secretaria de Saúde decidiu intensificar a estratégia de combate à doença. Em reunião com profissionais da rede pública na terça e na quarta-feira, o órgão orientou o reforço do atendimento nos centros de saúde. E elencou o vírus como a maior prioridade das autoridades locais nos próximos dois meses.
O motivo para tanta cautela está em projeções preparadas pela secretaria e que têm sido acompanhadas de perto pelo governador José Roberto Arruda. Os números traçam, no cenário mais pessimista possível, que entre 400 mil e 800 mil pessoas terão contato com a nova gripe até o fim de setembro ; quando a seca começa a declinar. Cerca de 200 mil podem desenvolver complicações como pneumonia. E, na pior das hipóteses, 450 morreriam pela doença.
Os dados foram obtidos com base em informações do Ministério da Saúde e são resultado de uma equação matemática que leva em conta fatores como clima, localização geográfica, tipo de população e outras variáveis. O período de seca é considerado o mais crítico porque o vírus encontra condições favoráveis de propagação quando a umidade relativa do ar fica entre 20% e 35%.
Mas, embora as projeções tenham sido apresentadas aos profissionais para respaldar e preparar as ações de combate à nova gripe, a avaliação, na cúpula do governo, é de que elas são pessimistas ao extremo. O GDF trabalha com três cenários para a doença e sugere que a situação só chegaria a esse nível se tudo desse errado na política de prevenção adotada até agora.
;Quem conhece a área e conhece de perto não acredita nesse cenário. A situação é grave, mas não para tanto;, comentou um integrante do alto escalão que acompanha diariamente o avanço da gripe. O gabinete de crise montado dentro do GDF para acompanhar a gripe ; o mesmo que bateu o martelo pelo adiamento das aulas na rede pública até segunda-feira ; monitora esses dados com frequência.
O próprio governador Arruda tem pessoalmente falado por telefone com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. E, segundo assessores, tem ouvido que são remotas as chances de o cenário mais pessimista se confirmar na cidade.
;Existem vários modelos matemáticos e ainda não há consenso sobre qual vamos escolher. Uma coisa que preocupa é que Brasília tem uma população flutuante muito grande. É o segundo maior aeroporto do país. Mas estamos trabalhando preventivamente;, ressaltou o secretário adjunto de Gestão da Secretaria de Saúde, Fernando Antunes. Segundo Antunes, o órgão providencia a compra de materiais como respiradores, máscaras e macas para reforçar a rede.
Com números tão preocupantes à mesa, a subsecretária de Vigilância à Saúde, Disney Antezana, explicou que as projeções são para uso interno da Secretaria de Saúde e que os cálculos são refeitos constantemente. ;O novo vírus tem alta transmissibilidade e é isso que foi colocado. Mas são estimativas técnicas que estão sempre sendo revistas.;
Reunião
A Secretaria de Saúde apresentou essas projeções nas reuniões com profissionais dos centros de saúde e dos programas Família Saudável e Agentes Comunitários de Saúde nestes dois dias. Cada encontro durou cerca de três horas e reuniu dezenas de funcionários da rede pública. Segundo relatos de quem esteve nos encontros, a chefe da Diretoria de Atenção Primária à Saúde (Diaps), Maria Jacira Abrantes, enfatizou que, com a descentralização dos atendimentos a pacientes com gripe, os postos de saúde terão que reforçar a atenção nesses casos.
A orientação, pensada com base no cenário mais pessimista, é para que qualquer paciente com sintomas da doença procure o serviço receba uma máscara e seja colocado em local de espera separado dos demais pacientes. A recomendação da secretaria é de que cada posto tenha um médico só para tratar casos de síndrome gripal, como forma de acelerar o atendimento. Ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) serão colocadas à disposição para transportar pacientes em estado grave aos hospitais regionais.
Caso a gripe seja diagnosticada, independentemente de ser sazonal ou suína, o paciente receberá atestado médico para repouso domiciliar ; de duas semanas para menores de 12 anos e de sete dias para os demais. A pessoa será orientada a retornar em dois dias para nova avaliação. E, se houver agravamento dos sintomas, o médico pode indicar a internação. A ideia é reservar pelo menos dois leitos pediátricos e dois para adultos em cada hospital da rede pública.