postado em 01/08/2009 08:00
Oficialmente, os representantes das escolas privadas afirmam que as secretarias de Saúde e de Educação têm sido parceiras nas orientações sobre a gripe A (H1N1), conhecida como gripe suína. Mas nos bastidores, diretores dos mais tradicionais colégios particulares da cidade reclamam que se sentiram apreensivos e desamparados depois que o governo decidiu estender o recesso até a próxima segunda-feira. A avaliação é de que eles ficaram sem argumento para convencer os pais que não deveriam suspender as aulas também.Na quinta-feira da semana passada, quando estados do Sul e Sudeste cogitavam manter as férias para tentar frear o avanço do novo vírus, a Secretaria de Educação local, após reunião com técnicos da Secretaria de Saúde, informou que não via motivos para adotar a mesma medida aqui. As escolas particulares, que estavam em dúvida sobre como proceder, entenderam o gesto como um sinal verde para manter o calendário e retomar as aulas normalmente. Mas no dia seguinte, no fim da tarde, o governo mudou de ideia e anunciou que adiaria o retorno dos alunos da rede pública de 27 de julho para 3 de agosto.
O secretário de Saúde, José Luiz Valente, assegurou, na ocasião, que a medida não foi motivada por risco de transmissão da doença, mas pela necessidade de colocar materiais de higiene pessoal nas escolas ; como álcool em gel, toalhas de papel, sabonete líquido e termômetro ; e de treinar professores a lidar com alunos gripados em sala de aula. Mas a atitude foi vista com desconfiança por pais de alunos da rede particular. Como muitos desses estudantes estiveram no exterior nessas férias, pelo poder aquisitivo mais elevado, houve o temor de que a prorrogação do recesso fosse ainda mais importante na rede privada.
Cautela
O diretor de um grande colégio particular do Plano Piloto que retomou as aulas na última terça-feira afirmou, sob a condição de não ser identificado, que um dia antes, os coordenadores estavam em dúvida se manteriam a decisão de reiniciar as atividades na data prevista. ;Houve certo apavoramento porque não sabiam se era para cancelar ou não. Só na tarde da segunda que o sindicato ligou para dizer orientar que as aulas fossem mantidas. Mas precisou que o sindicato dissesse. Até porque o governo não disse nada.;
O dirigente de outra escola particular do Distrito Federal diz que faltou um apoio mais explícito da Secretaria de Saúde para respaldar a decisão dos colégios. ;O governo poderia ter sido mais proativo para que pudéssemos argumentar com os pais, já que as escolas públicas adiaram para orientar os professores e colocar materiais de limpeza ; o que a gente já tinha feito;, ressalta. ;A categoria ficou insegura porque houve também a desconfiança. Ficou aquele pensamento no ar: suspenderam as aulas na rede pública de última hora, será que eles sabem de algo que nós não sabemos?;, completa.
Em meio à insegurança e à pressão dos pais, duas escolas particulares optaram pela cautela e decidiram suspender as atividades até a semana que vem. O colégio Cecap, no Lago Norte, estendeu o recesso até segunda-feira depois que um estudante recém-chegado da Disney apresentou sintomas de gripe dentro da sala. E a escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Lago Sul, que retomaria o ano letivo na quinta-feira passada, adiou o retorno para o dia 6, sob a justificativa de que o tempo seria suficiente para que alunos que estiveram fora e pegaram gripe apresentem os primeiros sintomas e não compareçam à aula.
Apesar do clima de apreensão e das reclamações, a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe), Amábile Pácios, diz que o GDF prestou as informações solicitadas até agora e que ninguém recomendou adiamento das aulas na rede particular porque não há motivo para isso. ;A Secretaria de Saúde está fazendo o que precisa fazer. Os diretores já estão mais tranquilos. É ilusão achar que, se não tiver aula, a criança vai ficar trancada em casa longe do vírus;, argumenta.
A secretaria vai na mesma linha e diz que tem prestado orientações ao sindicato. Hoje, às 14h, técnicos da rede pública de saúde, a pedido da Secretaria de Educação, darão uma palestra a integrantes de escolas particulares para recomendar cuidados sobre a nova gripe nos colégios. A oficina será no auditório da LBV, no fim da Asa Sul, e não é preciso inscrição.
O Sinepe encaminhou ao secretário de Saúde, Augusto Carvalho, um ofício na quinta-feira pedindo que a rede privada seja avisada caso haja um fato novo sobre a gripe na cidade. ;Não paramos porque nossos professores já estavam orientados e tínhamos sabão e álcool em gel nos banheiros. O ofício é só para dizer que vamos prosseguir com o calendário e queremos ser avisados em caso de mudanças;, diz Amábile.
; O que muda na rotina escolar
Sintomas
Técnicos da Secretaria de Saúde orientaram os professores a prestarem atenção em alunos que apresentarem febre acima de 38; acompanhada de tosse ou dor de garganta ; o que caracteriza o quadro de síndrome gripal. Se isso ocorrer, a criança deve ser encaminhada à direção. Os diretores e coordenadores foram instruídos acionar os pais e recomendar que a pessoa seja levada a um centro de saúde.
Higiene
Além de ficar atentos a estudantes com suspeita de gripe, os professores devem reforçar orientações sobre higiene pessoal na sala de aula. A principal delas é quanto às mãos, que devem ser lavadas pelo menos quatro vezes em cada turno. A limpeza pode ser feita com sabão líquido ou álcool em gel e a secagem, com toalhas de papel. Outra recomendação é que as crianças evitem tocar os olhos sem antes lavar as mãos. O mesmo vale para a boca.
Lanche e bebedouros
Professores e coordenadores foram orientados ainda a pedir que os alunos não compartilhem o lanche ; hábito comum entre as crianças. Nem beber no mesmo copo ou garrafa. Os estudantes devem evitar também encostar a boca nos bebedouros
Materiais
Cada escola terá de contar com sabão líquido, álcool em gel e toalhas de papel para que os alunos possam higienizar as mãos, além de termômetro. Para 184 escolas que não receberam a segunda parcela da verba de gestão compartilhada, o governo promete entregar kits com esse material até hoje à tarde. Cada kit foi feito para durar 50 dias. As escolas que receberam o dinheiro terão que comprá-lo com recursos próprios. E onde o serviço de limpeza for terceirizado, o material ficará por conta da empresa.
; Professores ainda confusos
As escolas públicas ficaram mais sete dias paradas para que os docentes e diretores recebessem treinamento sobre a nova gripe. A semana passou, as oficinas foram realizadas, mas professores reclamam que ainda se sentem despreparados para lidar com a doença.
A orientação é para que alunos que estiverem com sintomas de gripe sejam retirados de sala de aula e levados para a direção para medir a temperatura. Os coordenadores e diretores foram instruídos para que, em caso de suspeita de gripe, os pais sejam avisados para que levem o estudante ao centro de saúde o mais rápido possível.
Mas professores afirmam que ainda estão confusos sobre como fazer essa triagem. ;Falaram que não é para isolar o aluno que está só com febre, para não causar alarde entre as crianças. Mas ao mesmo tempo dizem que é para tirar a criança com gripe imediatamente da sala. Não sou médica para saber isso;, reclama Maria das Dores Souza, professora do Centro de Ensino Fundamental 15 do Gama. Segundo ela, o treinamento aos professores da escola levou menos de 40 minutos. ;O treinamento não foi muito além do que vimos na mídia;, lamenta a professora Maria Reis, do Caic de Sobradinho II.
A subsecretária de Vigilância à Saúde, Disney Antezana, afirma que nem toda febre é motivo para retirar os alunos de sala. ;Nem toda febre é gripe. O quadro de gripe é bem definido: febre acima de 38; acompanhada de tosse ou dor de garganta;, orienta.
Outra reclamação constante é quanto à manutenção das medidas de prevenção. Os professores foram orientados a reforçar com os alunos a higienização das mãos ; uma das formas de evitar o contágio pelo vírus da gripe suína. Os técnicos da Secretaria de Saúde recomendam que os alunos lavem as mãos com sabão líquido ou álcool em gel pelo menos quatro vezes em cada turno ; além de outras três vezes na hora do almoço, no caso de quem estuda em período integral.
;A preocupação é prover esses materiais para dar continuidade ao que foi recomendado, já que as escolas têm uma carência de produtos de limpeza;, reclama o professor Clerton Oliveira, do Centro de Ensino Fundamental 104 Norte. Até ontem a escola não havia recebido o kit com os materiais para higiene dos alunos. Para 184 escolas que não receberam a segunda parcela da verba de gestão compartilhada, o governo promete entregar kits com esse material até hoje à tarde. Cada um foi feito para durar 50 dias. (DM)