Brasil

Fiéis da igreja Universal defendem bispo Macedo em São Luís

O líder da igreja e dono da Record, Edir Macedo, é acusado de formação de quadrilha, lavagem e desvio de dinheiro. Em São Luís, os fiéis da igreja acreditam não passar de perseguição

Sandra Viana
postado em 18/08/2009 09:22
Na mira da justiça, representantes da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) tentam se defender das acusações de formação de quadrilha, lavagem e desvio de dinheiro. Dez pessoas, entre elas o fundador e líder da igreja e dono da Rede Record, bispo Edir Macedo, são citadas na denúncia do Ministério Público de São Paulo. [SAIBAMAIS] Segundo as investigações, em sete anos, a igreja teria arrecadado R$ 8 bilhões em doações. Destes, R$ 300 milhões foram movimentados em cinco países e distribuídos a empresas de comunicação e na compra de bens. A denúncia foi apresentada e aceita à 9ª Vara de Justiça do Estado. Para os fiéis, tudo não passa de calúnia e disputa de emissoras por audiência. Em São Luís, o templo central da IURD, no Centro, permanece lotado. As denúncias contra o líder da igreja parecem ter fortificado a fé dos membros. A reportagem de O IMPARCIAL procurou por fiéis no referido templo, em uma noite movimentada de culto. Sem exceção, todos os entrevistados classificaram de perseguição as acusações contra os membros da IURD. Quando perguntados sobre as denúncias, rebatem com a defesa ao bispo Edir Macedo. A maneira veemente e, de certa forma agressiva, mostra a fidelidade e servidão dos membros à congregação. "Não somos burros", disse convicto o universitário Renan Waynne, 20. O que é doado de coração durante os cultos, explica ele, sabemos onde é investido. Renan é membro da IURD há dois anos e obreiro no templo do Centro. Renan diz que o crescimento da rede Record, ligada à IURD, "tem incomodado outras emissoras". Com a Record, pontua, a população teria acordado e se libertado do monopólio televisivo. "Situações isoladas não podem manchar o trabalho que a igreja vem fazendo", enfatiza Renan, que antes de se converter era depressivo e diz ter-se libertado na IURD. Se o dinheiro doado vai ou não para a igreja, não importa. É o que pensa a vendedora Lindenalva Marques, 33 anos. Segundo ela, "cada um faz sua parte em nome da obra de Deus. Quem desviar essa doação prestará contas a Ele", alega a fiel. Mas, de acordo com a Promotoria, esta prestação de contas é inexistente. As doações dos fiéis teriam sido usadas para compra de empresas de comunicações e até em benefício dos acusados, segundo as acusações. Ou seja, dinheiro que era para investir nas igrejas e obras sociais foi desviado, segundo o Ministério Público. O problema não seriam as doações, mas o destino destas. As igrejas são isentas de impostos, justamente porque devem investir o que recebem nos templos, o que, segundo a Promotoria, não vinha sendo feito pela IURD. As provas foram reunidas pelo MP em dois anos de investigações. Perseguição Em entrevista à emissora que comanda, no último domingo, o bispo Edir Macedo disse que passa por "uma provação que só ativa a fé". Relembrou outras denúncias que chamou de "perseguições" e disse encarar com naturalidade. Quanto às doações afirma serem investidas nos templos suntuosos e cita uma igreja em Miami (EUA), que, entre a compra e reforma custou US$ 4 milhões, cerca de dez milhões de reais. Edir Macedo disse ainda investir nos templos "para conforto dos fieis, que merecem". E reitera: se fosse de uma quadrilha investiria em ouro. E dispara que: "vivo com o salário pelo trabalho na igreja. É com meu salário que pago meus compromissos, minhas contas de água e luz". No entanto, o bispo não revelou de quanto é esse salário. Macedo pontuou que as denúncias foram arquivadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à pedido da Procuradoria Geral da Justiça. Segundo ele, o motivo seria um só: desestabilizar a igreja e a Rede Record. O pastor destaca que o controle exercido pela Globo foi abalado com o crescimento da Rede Record. A equipe de reportagem tentou contato com o pastor André Morgado, que lidera a IURD no Maranhão, mas foi informada que o pastor teria viajado a Imperatriz a fim de inaugurar uma igreja e que retornaria hoje. Império da fé O luxo e a suntuosidade são marcas dos templos centrais da IURD. O maior deles na capital, por exemplo, foi construído recentemente. Bem localizado é ornamentado com vitrais, cobertura e móveis de qualidade. Os cultos podem ser comparados a um espetáculo inebriante. A multidão, sob as palavras do pastor em alto e demasiado timbre fortalecido por um grande aparato acústico. A cada palavra, intensamente repetida, contribui para deixar o público letárgico. México, Venezuela, Estados Unidos, Chile e África do Sul seriam os países depositários do dinheiro originado no Brasil pela IURD. Na África do Sul, por exemplo, a igreja está presente em quase todos os países. Em Portugal são 120 templos erguidos e outros em construção. Lá a começou a atuar em 1999 partindo para o resto da Europa e África. A enfermeira Eunice Santos acredita que deve ser investigada a origem do patrimônio do bispo Edir Macedo. "Foi constatado que ele é detentor de muitos bens e empresas. Será que isso se deve ao trabalho dele ou às doações?", questiona ele, que é de outro segmento religioso. A IURD está presente em 172 países. Quantas igrejas a IURD possui, nem o bispo Macedo diz saber. É fato que, das congregações evangelizadoras, a Universal é uma das mais proeminentes.

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