Landercy Hemerson
postado em 19/08/2009 09:45
Reencontrar sua mãe biológica depois de 15 anos de separação, por meio de um site de relacionamento, com certeza não era o que o gari Lucas Ferraz da Silva, de 21 anos, esperava ao criar uma página com seu perfil no Orkut. "Meu irmão me incentivou a criar a página para conhecer pessoas e fazer amizades. Mas raramente eu acessava", contou. E foi no mês passado, depois de 15 dias sem entrar no site, que uma amiga ligou para ele, dizendo haver lá um recado de uma jovem que falava da possibilidade de ser irmã de Lucas.
Na cabeça de Lucas Ferraz vieram todas as lembranças de quando seu pai saiu de casa em Nanuque, Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha, com ele e o irmão mais velho, Rodolfo, a caminho da capital. Com apenas 6 anos, entre lágrimas, não teve como escolher ficar com sua mãe, Marinalva Ferraz da Silva, que permaneceu na cidade com as duas filhas do primeiro casamento. Naquele momento, mãe e filho não podiam imaginar que ficariam tantos anos separados.
Lucas conta que morou por um ano com seu pai, a madastra e o irmão no Bairro Nazaré, Nordeste da capital. Em seguida, foi morar com a avó paterna em Santa Luzia, onde ficou por quase dois anos, até que se deparou como uma tragédia que o traumatizou e provocou nova mudança de endereço. "Estava junto com um primo numa lagoa e ele morreu afogado. Depois disso, minha tia, que morava em Divinópolis (Centro-Oeste) me levou para a casa dela", conta.
O gari ficou com a tia no Bairro Terra Azul até os 14 anos, quando ela se mudou. "Eu não tinha um bom relacionamento com meus primos, daí fiquei morando sozinho na casa dela. Uma vizinha, dona Adenise, foi uma segunda mãe, pois me dava comida e cuidava de mim. Como tinha quatro filhas, não teve como me abrigar na casa dela. Porém, ela conseguiu uma vaga num abrigo", recorda.
A sorte de Lucas Ferraz começou a mudar quando no abrigo, conseguiu trabalho. "Foi no trabalho que conheci o Kempes, que tem mesma idade que eu. Ia para a casa dele assistir televisão. Um dia, a mãe dele perguntou se não queria morar com eles. De um amigo, ganhei outra mãe e mais quatro irmãos". A dona de casa Norma Sueli Carvalho Costa criou Lucas desde os 17 anos e comemorou o reencontro do filho adotivo com a mãe biológica.
Reencontro
A diarista Marinalva Ferraz não podia imaginar que estava bem próxima de reencontrar o filho quando recebeu a notícia do paradeiro dele, por meio da filha, que hoje mora em Brasília. Foi ela que teve a iniciativa de procurar pelo gari no site.
A diarista, hoje vivendo em Vespasiano, Grande BH, esteve no fim de semana em Divinópolis para o reencontro. Entre lágrimas e muitos abraços, Marinalva disse que nunca desistiu de reencontrar Lucas.
Calejado pelas dificuldades da vida, ele garante que não chorou, mas confessa: "o coração bateu forte desde o primeiro momento que vi a mensagem no site. Não tive dúvidas de que era minha irmã. De lá para cá, têm sido muitas emoções", disse ele, que espera agora encontrar outros parentes. Desde já, ele diz que está guardando dinheiro. "Agora tenho três mães e, em maio, quando for comemorar o dia delas, quero dar um presente especial para cada uma."