postado em 23/08/2009 09:48
Com 488 mortes confirmadas até sexta-feira e novos infectados a cada dia, o Brasil vive o pico da pandemia de Influenza A (H1N1), também conhecida como gripe suína, e a situação se reflete no comportamento da população. Andar de máscaras e limpar as mãos com álcool em gel o tempo todo são hábitos já incorporados à rotina de muita gente. Mas se por aqui a situação é de aparente paranoia, em outras partes do mundo o vírus deixou de assustar. O Correio ouviu relatos e impressões na Europa, na América e na África. Lá fora as pessoas já não parecem mais tão preocupadas, mesmo com o alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o risco de expansão dos casos no fim do ano.
Os Estados Unidos têm o maior número de óbitos pela nova doença em todo o mundo: 522, segundo dados oficiais. Mas, para evitar o pânico, o governo tem investido pesado em campanhas de esclarecimento, como relata a repórter Daniela Lima, que retornou de Nova York na semana passada. "Os moradores disseram que há seis meses o cenário era de certo pânico devido à nova doença. Agora, já não se encontram americanos usando máscaras em locais públicos." Uma das artimanhas dos órgãos de saúde para reverter a situação foi divulgar amplamente que o país espera ter, até o inverno, 45 milhões de doses da vacina contra o novo vírus.
Na Alemanha, o verão europeu com temperaturas que chegam a 36 graus parece ter amenizado o temor em meio à nova gripe. A repórter Paloma Oliveto visitou o país há duas semanas e percebeu que pessoas com máscaras nas ruas é algo raro. Nos aeroportos de Colônia, Frankfurt e Munique, não há folhetos sobre a doença nem formulários sanitários. Os alemães tampouco aparentam medo de aglomerações. "Mais de mil pessoas de 180 países estiveram reunidas na cidade de Bonn para participar de um encontro sobre mudanças climáticas. No hotel onde foi realizado o evento, não havia recomendações sobre como evitar o contágio nem álcool em gel", diz Paloma.
Calmaria
A situação é parecida em Portugal, onde a população tem encarado a doença com naturalidade, segundo o oftalmologista Orlando Alves. Ele afirma que as autoridades estão se preparando para um possível avanço da doença no fim do ano. "Tanto que a vacinação anual contra a gripe comum foi antecipada este ano. A nova gripe é apenas mais uma gripe." Até mesmo na América do Sul, um dos continentes por onde o novo vírus mais se espalhou, já há sinais de calmaria. No Equador, embora a nova gripe tenha infectado até mesmo um ministro de estado e um segurança da presidência, o clima é de tranquilidade, como relata a repórter Maria Vitória, recém-chegada do país.
"Sem máscaras e sem pânico. Assim segue a vida no Equador. No inverno quente de Guayaquil, com temperaturas oscilando em torno de 32 º, os sistemas de ar condicionado funcionam a todo vapor. Os shoppings estão cheios." Em Serra Leoa, país mais pobre do mundo, o limitado acesso a meios de comunicação conteve a paranoia, relata o diretor regional para a África Ocidental da Agência Católica para o Desenvolvimento Internacional, António Cabral. "A pobreza protege a África porque o principal meio de propagação da gripe é a circulação de pessoas. Em Freetown, capital de Serra Leoa, não chegam mais do que cinco voos semanais vindos da Europa. Numa zona do globo onde a cada 30 segundos morre uma criança de malária, tifoide e diarreia, os africanos não têm espaço para se preocupar com uma doença que ainda não chegou."