postado em 24/08/2009 10:47
O plano piloto de Lúcio Costa feito no final dos anos 60 para a Barra da Tijuca partia do pressuposto de que para lá cresceria o Rio Janeiro, esgotadas as opções no centro e na Zona Norte, e lá seria o seu novo centro comercial e cultural.
A cidade vivia, desde o começo da década, progressivo esvaziamento político-administrativo resultante da transferência da capital federal para Brasília, e o primeiro governador do novo estado da Guanabara, Carlos Lacerda, abria o Aterro do Flamengo, extinguia os bondes e derrubava o Tabuleiro da Baiana, criando o novo desenho do Rio pós-JK.
[SAIBAMAIS]
Nesse cenário, foi encomendado o plano piloto de Lúcio Costa para a ocupação da Zona Oeste, ou melhor, do litoral daquela região, porque Jacarepaguá. Campo Grande, Realengo e outros bairros já existiam pelo menos desde o início do século. Muitos arquitetos vêem na ocupação da Barra da Tijuca o começo da decadência do centro e da Zona Norte do Rio de Janeiro, sobretudo a partir do "milagre brasileiro" da virada dos anos 70.
"A ideia de levar o centro para a Barra me faz lembrar o modelo de desenvolvimento brasileiro, predador, sempre privilegiando espaços desocupados", diz a socióloga, historiadora e vereadora carioca Aspásia Camargo, para quem, mesmo levando-se em conta a tese desses arquitetos, é preciso lembrar que o centro da cidade e a Zona Norte estavam abandonados havia muito tempo.
"A Zona Norte foi consolidada por Hermes da Fonseca (presidente da República entre 1910 e 1914), que construiu as casas, a estrada de ferro, a Vila Militar. Tudo na República Velha, antes do Getulio", ensina a historiadora, na defesa do argumento de que o movimento urbanístico para a Barra da Tijuca, de toda maneira, era inevitável.
A estranheza de Aspásia Camargo no processo é a falta de planejamento que marcou a povoação da Barra da Tijuca desde o começo, uma contradição dentro do regime militar e seus planos de desenvolvimento setoriais e globais, anuais e plurianuais.
"Aliás, os militares da ditadura não seguiram o exemplo do marechal Hermes, senão a Barra seria outra. Você vê que lá não tem nem transporte urbano, os condomínios verticais criaram um 'neocomunitarismo' sem o qual seria o caos. Além das áreas comuns de convivência, eles têm até ônibus próprios para transportar seus moradores ao trabalho", diz.
Apesar do "déficit ambiental gigantesco" da Barra da Tijuca, a vereadora confessa amar o bairro "como tudo o mais na cidade", e destaca o compromisso com a estética humana como a principal no bairro. Lá estão o mar, a praia de 18 quilômetros, os atrativos naturais necessários à satisfação das pessoas em qualquer ramo de atividade humana.