Brasil

Colecionador mineiro de cachaça entra para o Guinness

Patrícia Rennó
postado em 28/08/2009 09:11
Em uma verdadeira biblioteca de cachaças, o administrador de fazenda Messias Soares Cavalcante, de 62 anos, em Alfenas, no Sul de Minas, conseguiu reunir em 20 anos mais de 12,2 mil garrafas da bebida genuinamente brasileira. As pingas estão catalogadas em ordem alfabética e se destacam pela boa conservação, curiosidades e pelos exemplares raros, que podem custar até U$ 10 mil, cada. Atualmente, o colecionador anda sorrindo a toa, não por que gosta de degustar as "branquinhas", mas por ter recebido há uma semana o título de maior colecionador de cachaça do mundo pelo Guinness World Record. O recordista exibe o documento oficial que veio dos Estados Unidos e diz que está orgulhoso de ter trazido o certificado para Minas Gerais. Entre novas aquisições e garrafas repetidas, a coleção de Messias soma hoje 13.012 exemplares, de 1.670 cidades, confeccionadas por 6.249 produtores de 14 países. A maioria do acervo foi produzida em Minas: 5.195 garrafas. A segunda colocação é para São Paulo, com 3.372 e o restante veio dos outros estados brasileiros, além das que foram adquiridas em Portugal, Argentina, Bolívia, Venezuela, México, Panamá, etc. Tudo começou quando Messias trabalhava no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo. Durante uma das inúmeras viagens que fazia pelo Brasil, encontrou uma cachaça com nome interessante e comprou. A partir daí, não parou mais. O grande acervo foi formado com aquisições em supermercados, bares, lojas especializadas e de antiguidades, leilões, pela internet e compra de coleções já existentes. A coleção ocupa uma área de 130 metros quadrados, dividida em três salas construídas ao lado da casa da Fazenda Espigão, na zona rural de Alfenas, que Messias administra e mora com a esposa há 15 anos. As milhares de garrafas de todos os tamanhos e formatos foram numeradas e catalogadas de A a Z, e ficam armazenadas em prateleiras de alvenaria, cada uma embalada em plástico transparente. Lá estão desde garrafas finas e raras até algumas de plástico PET. Há os tradicionais recipientes de vidro e outros de cristal, porcelana e metal. Alguns são revestidos de couro, palha, folha de bananeira e serragem. Pesquisadores da bebida indicam que a comercialização de cachaças em recipientes individuais e rotulados teve início no fim do século 19. Um capítulo à parte das bebidas é a variedade dos rótulos. Messias comenta que a maioria não é possível datar, pois as garrafas geralmente não trazem essa informação, mas ele calcula a antiguidade pelo tipo de material usado nos rótulos, como alguns confeccionados em papel e pintados a mão à bico de pena ou tecido. Outros são de plástico ou jateados com tinta no próprio vasilhame. O recordista acredita que a mais antiga é de 1928, uma das poucas datadas. Messias explica que gastou mais de seis meses para reunir toda a documentação que comprovasse a coleção, mas que o esforço valeu a pena. "O último recorde foi conquistado por um pernambucano em 1999 e ficou com ele até o mês de maio. Agora, o trouxemos para Minas Gerais. Estou muito feliz por isso", disse. Irônicos No acervo é possível encontrar cachaças com nomes engraçados e sugestivos, como: 20 tipos de corno, Abu-Zadinha, A tentadora, Adeus solidão, Alívio de dores, Alma gêmea, Anestesia, Rei do chifre e Bafo de onça. Outras usam a ironia, como o Jegue Daniel, uma paródia ao uísque Jack Daniels. Há coleções de minigarrafas comemorativas de Olimpíadas e em homenagem a clubes de futebol. Além das tradicionais, como a Havana, fabricada em Salinas (MG) e por muitos considerada a melhor cachaça do país. Entre as raridades está a Caninha Pelé, cuja garrafa chega a custar U$ 10 mil. "Ela foi produzida em 1958, quando o Brasil ganhou a Copa do Mundo na Suécia. Quando chegou ao Brasil, Pelé, que na época tinha 17 anos, não gostou de ver seu nome associado à bebida alcoólica, entrou com um processo e a produção foi recolhida. Sobraram poucas garrafas e uma delas está aqui", conta. Outro tesouro é uma Sagatiba Preciosa, adquirida por R$ 5,2 mil num leilão da Christie%u2019s em Amsterdã. Ele tem até uma garrafa do ET de Varginha, que teve produção limitada e foi curtida com caranguejo e frutas. O colecionador comenta que muitas das pingas não são tão saborosas, mas valem para a coleção. Apreciador de uísque, há apenas 10 anos começou a degustar a "água que passarinho não bebe". "Não era muito fã de pinga, mas depois que comecei a provar, desisti do uísque e agora só tomo cachaça, que é muito melhor. Mas bebo somente aos sábados, com os amigos". Com o atual volume no seu acervo, se fosse beber toda a coleção, um pouco a cada dia, Messias Cavalcante levaria 34 anos para acabar com as garrafas. Tanta dedicação ao hobby custou ao administrador mais de R$ 200 mil. Questionado se venderia a coleção, Messias disse que já recebeu inúmeras propostas de venda, mas que as recusou. "Já me ofereceram mais de R$ 1 milhão por elas, mas não aceitei. Pretendo deixar tudo isso para meus filhos", responde.

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