Luciane Evans
postado em 28/08/2009 09:12
Se em cidades como Belo Horizonte e São Paulo a busca por atendimento especializado para casos suspeitos de gripe suína começa a apresentar os primeiros sinais de declínio - o que revelaria que a estrutura montada para o combate passou pela primeira prova de fogo - a disseminação do vírus influenza A (H1N1) começa a levar preocupação a cidades do interior do país.
"Cada vez mais, estamos observando que o vírus tem se espalhado para todas as classes e regiões. Além das capitais, onde o fluxo de pessoas é grande, está se disseminando para o interior", afirma o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, ao alertar que os pequenos municípios são a preocupação da vez, devido a deficiências históricas do sistema de saúde.
[SAIBAMAIS]
"São cidades carentes de estrutura hospitalares. Faltam médicos capacitados para atender os infectados, há déficit de unidades de terapia intensiva e, além disso, pouco acesso ao tratamento", aponta. Segundo ele, por isso, nos próximos dias o país pode enfrentar a fase mais drástica da epidemia.
Reconhecendo que não há como prever o comportamento da nova gripe, o infectologista afirma que, ao chegar à população mais carente, o número de óbitos pode subir. "Em relação ao país, quando a gripe atingir efetivamente o Nordeste, o cenário poderá ser pior, devido às condições precárias em que vivem as pessoas".
O especialista lembra que, das 12 mortes confirmadas em território mineiro, 10 ocorreram fora da capital, onde há o maior número de contaminados. Três pessoas já perderam a vida por causa da gripe no Triângulo Mineiro, uma no Sul de Minas, uma no Vale do Aço, uma no Alto Paranaíba, duas na Região Central e duas na Grande BH. Autoridades sanitárias do estado, porém, garantem que há estrutura e preparo para lidar com a ameaça fora da capital.
Mas, em regiões como o Triângulo Mineiro, o clima é de preocupação. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor clínico do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, Marcelo Simão Ferreira se diz apreensivo. "Já temos dois óbitos confirmados pela doença e há cinco sob investigação em Uberlândia. Nas oito unidades de atendimento integradas, já recebemos mais de 5 mil pacientes com quadro de gripe. O cenário é preocupante."
O temor, segundo ele, é um aumento no número de infectados pela nova gripe na região. "Só em Uberlândia, são 700 mil habitantes e temos apenas 60 leitos em unidades de tratamento intensivo para adultos. Vamos abrir mais, mas a preocupação é o tempo, pois neste momento ainda não dá para oferecer novas alas."
O infectologista afirma que, na semana passada, um morador de Patrocínio contaminado pelo vírus morreu, depois de tentar sem sucesso um leito em Uberlândia. "O que temos feito é tomar medidas drásticas para conter a transmissão. Cancelamos as festas na cidade, as exposições e todos os eventos que atraem multidão."
Ainda de acordo com ele, para que houvesse medicamento contra a gripe suína, o Ministério Público moveu ação reivindicando 500 tratamentos para a cidade e 50 kits para cada município do Triângulo.
De acordo com Augusto Guerra, superintendente de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado de Saúde (SES), antes mesmo da decisão judicial, o Comitê Estadual de Enfrentamento à Influenza A (H1N1) já havia decidido que Uberlândia receberia as doses.
Ele também rebate a informação de que o acesso ao medicamento das cidades do interior é restrito, apontando que as 28 gerências regionais de Saúde receberam os kits. "Temos estoque suficiente para os municípios do interior de Minas e não há falta de acesso. Há uma semana, dos 75 mil kits entregues ao estado, 50% foram distribuídos para secretarias municipais, hospitais do interior e gerências regionais."
De acordo com ele, das 13 macrorregionais de Minas Gerais, apenas as secretarias municipais de Saúde de Belo Horizonte e Uberlândia receberam o medicamento. "Gostaríamos de distribuir para outras cidades, mas isso depende também dos municípios. Os próximos a receber serão Juiz de Fora, na Zona da Mata, e Uberaba, no Triângulo."
Treinamento
Já a subsecretária de Políticas e Ações de Saúde da SES, Helidea de Oliveira Lima, assegura que não há falta de capacitação de profissionais de saúde no interior nem de leitos para internação de casos graves. "Uma equipe do Hospital Eduardo de Menezes, que atuou quando começaram os primeiros casos na capital, foi responsável por capacitar todas as macro e microrregionais, possibilitando a atualização de todos os médicos do estado. Não existe falta de capacitação."
De acordo com ela, os 130 hospitais da rede Pro-Hosp e da Fundação Hospitalar de Minas Gerais estão mobilizados e preparados para atender os pacientes com gripe suína. "Há leitos e unidade de tratamento intensivo o suficientes. À medida que for aumentando o número de casos em determinada região, vamos ativando novas alas gradativamente, como foi feito na Região Central do estado. Essa é a estratégia."