postado em 28/08/2009 09:41
O paulista Gilberto Muner perdeu completamente a audição aos 10 anos de idade por causa da meningite e só pôde voltar a ouvir aos 40 anos, após uma cirurgia de implante na cóclea (ouvido interno).
A surdez de graus severo a profundo atinge cerca de 150 mil potiguares, segundo o otorrinolarigologista Rodolpho Penna Lima Júnior, palestrante da 1ª Jornada Norte Nordeste de Implantes Cocleares, iniciada ontem (27/8), no hotel Ocean Palace, na Via Costeira.
"O implante é o único meio de fazer uma pessoa com problemas profundos de audição ouvir. Já o aparelho auditivo é recomendado apenas aos que ouvem pouco ou baixo, ou seja, os que possuem menos dificuldades", explica.
Ele afirma que o aparelho implantado age transformando o som em impulso nervoso, trabalho que deveria ser desenvolvido pelas células ciliadas e por algum motivo não acontece. Rodolpho diz que o RN foi um dos primeiros a realizar esse tipo de cirurgia, que já existe no estado há nove anos.
"O estado foi quem difundiu a prática pelo Nordeste, pois nossa equipe foi responsável pelos primeiros implantes no Ceará, Pernambuco, Bahia e Distrito Federal. Nós estamos sempre treinando e levando o conhecimento aos profissionais da área", comenta. Ele conta que os profissionais do estado têm a pretensão de fundar a Sociedade Norte Nordeste de Otologia e Otoneurologia para trabalhar com o tema no Norte e Nordeste.
O aparelho utilizado em pessoas com problemas de audição profundo é dividido em duas partes. A primeira, implantada cirurgicamente, é composta por uma antena receptora, chip e feixe de eletrodos. A outra parte é maior e serve para uso externo, composta por processador de fala, microfones, antena, programas e baterias.
Gilberto Muner teve esse o modelo implantado. O dispositivo dele conta com quatro programas diferentes, com adaptação feita apenas para ele. "O primeiro eu utilizo mais no ambiente de trabalho, onde preciso de silêncio no fundo para ouvir apenas as máquinas, já que trabalho em uma siderúrgica como líder de manutenção e preciso ouví-las para checar se estão em bom funcionamento. O segundo capta um pouco do ruído de fundo, eu utilizo mais para conversar. Já o terceiro serve para conversas ao telefone enquanto que o quarto para música, por ser um som mais suave".
Qualidade de vida
Gilberto usa o aparelho há seis anos porque, antes, o implante ainda estava chegando ao Brasil e não era oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ele diz que antes da cirurgia ele era uma pessoa muito deprimida. "Eu queria participar das conversas e, em não conseguir ouvir o que as pessoas estavam discutindo, ficava logo aborrecido. Eu quase perdi a fala porque precisava repetir muito o que falava, já que não conseguia me ouvir".
Hoje, o líder de manutenção é casado e conta das mudanças na sua vida. "Quando fiz o implante foi um grande choque porque eu não conhecia mais o som das coisas. Aos poucos fui voltando a falar normalmente e a associar o barulho de uma campanhia, telefone, buzina".