Brasil

A rotina de famílias castigadas por alagamentos cada vez que chove em Natal

postado em 28/08/2009 09:46
Basta começar a chover para os moradores da comunidade Passo da Pátria, Zona Leste de Natal, entrarem em alerta. As chuvas que caíram em fevereiro deixaram marcas até hoje. Elas estão em todos os lugares: nas paredes, nas barricadas de areia e na memória de quem vivenciou o pior alagamento dos últimos meses. A dona de casa Socorro Macena Silva, 71 anos, não vê a hora de se mudar. Ela precisou ser retirada de casa às pressas quando o "bueirão" estorou em fevereiro. O ex-ourives Antônio Bezerra Silva, 77 anos, levou a mulher em seus braços atravessando a rua, "com água pelo peito", deixando para trás a casa totalmente inundada, roupas, alimentação, móveis e eletrodomésticos queimados. Ele ainda tentou salvar algumas gavetas de roupa, mas deixou tudo de lado para resgatar a mulher. Antônio mostra as marcas na parede, num gesto que vai ser repetido nas casas seguintes. Maria Selma da Silva, 21 anos, conhece de perto esse drama. Ao voltar de viagem, a dona de casa se deparou com a residência inundada, os móveis cobertos de lama e os eletrodomésticos queimados. "Chorei de tanto desgosto", relata. A dona de casa enumera o que perdeu no último alagamento: um guarda-roupa dividido em 12 parcelas, um fogão, uma mesa, quatro cadeiras, cama, armário, televisão, raque, colchão. Além disso, perdeu todas as roupas e alimentos. Os móveis ainda permanecem na casa de apenas dois cômodos, encostados nas paredes para não desmancharem. Segundo a dona de casa Gilvanice Nascimento, 21 anos, que mora no Passo da Pátria há 17 anos, praticamente todas as ruas alagam quando chove com mais intensidade. "Quando o tempo fecha, todo mundo fica apavorado", afirma. Vale Dourado Mas esse drama não se restringe aos moradores do Passo da Pátria. Outros natalenses também enfrentam transtornos provocados pelas chuvas, como por exemplo, os moradores da Rua Ulisses Guimarães no conjunto Vale Dourado, localizado no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, que colocaram barricadas de areia, aumentaram os batentesda calçada e até cavaram valas de escoamento para impedir que a água das chuvas invadisse suas casas. Projetos "Natal não está preparada para chuvas mais intensas, por que há muito tempo não é feito um trabalho completo de drenagem", declara o secretário municipal de Obras Públicas e Infra-estrutura, Demétrio Torres. Segundo ele, a maior parte dos problemas provocados pelas chuvas em Natal se deve à característica topográfica da cidade, formada por bacias fechadas para onde a água não pode escoar. Demétrio aponta alagamentos de ruas, formação de poças e transbordamento de lagoas de captação como os problemas mais frequentes. "De um modo geral, os bairros da Zona Norte são os que mais sofrem com as chuvas. Faltam galerias, pavimentação e drenagem. Esses problemas não podem ser resolvidos em 24 horas", acrescenta. No centro da cidade, são as galerias subdimensionadas que causam transtornos à população. "Algumas ruas ficam alagadas, mas depois que as chuvas param, a água começa a escoar", informa Demétrio. Para ele, 2009 é um ano para cumprir o Plano Diretor de Drenagem e propor novos projetos de obras públicas. Três grandes obras realizadas para resolver problemas causados pelas chuvas têm previsão de conclusão para o final do ano: a drenagem do bairro de Nossa Senhora da Apresentação, a drenagem e pavimentação de Capim Macio e a reestruturação do canal do baldo e do Passo da Pátria. Demétrio relembra o alagamento provocado pelo rompimento do bueiro do Passo da Pátria em fevereiro de 2009. "Com a conclusão do projeto, isso não vai se repetir". Os recursos disponíveis para os projetos da Secretaria Municipal de Obras Públicas soma R$ 140 milhões.

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