Brasil

Marcado pela pluralidade, conferência vota propostas para a política nacional de segurança

postado em 29/08/2009 10:23

Quem passar em frente ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães terá dificuldade para saber do que se trata o evento que ocorre lá desde ontem e que termina amanhã. Homens fardados, pessoas portadoras de deficiência, homossexuais, travestis, índios. A diversidade de perfis dos participantes da 1; Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg) é tanta que pode confundir transeuntes desavisados. Na visão do secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, o caldeirão de gente é um dos principais fatores do encontro, que conta com 40% de representantes da sociedade civil, 30% de trabalhadores da área e 30% de autoridades do poder público. No total, são cerca de 2 mil pessoas que vieram de todos os estados, onde foram eleitos para votar uma versão final das propostas que integrarão a política nacional de segurança pública.

;A ideia é justamente trazer a sociedade para a discussão, a fim de definirmos diretrizes do setor de forma mais acertada;, destaca Balestreri. Para Walkiria La Roche, que representa na Conseg os travestis e transexuais, a experiência da convenção tem superado as expectativas. ;Eu já tenho uma boa relação com as pessoas lá em Belo Horizonte e isso está se repetindo em Brasília. Conversamos com policiais civis, militares, gente da sociedade organizada. Tudo uma maravilha;, conta Walkiria. O clima de não discriminação começou logo na chegada, na hora de se hospedar, quando a organização do evento colocou Walkiria em um quarto duplo, junto com uma guarda municipal do interior de Mina Gerais. ;Eu nem a conhecia, mas foi tudo ótimo. Imagine se nos colocassem separados dos outros. Se transformaria num gueto;, comenta.

Ao lado de Walkiria, um policial civil de Belo Horizonte enumera as propostas que sua corporação trouxe a Brasília e, mesmo em meio a tanta gente, reclama da ausência do Judiciário e do Ministério Público. ;Mais uma vez, eles se encastelaram nos seus escritórios e deixaram a discussão sobre segurança pública para polícia e sociedade;, critica Denilson Aparecido Martins. Mais adiante, Francisco dos Santos Sampaio exibe o adesivo na camiseta: ;Desmilitarização, já!” Para o policial militar do Amapá, que liderou recentemente uma greve no estado, o formato militar é ultrapassado e fracassado. ;Enquanto não tivermos um tratamento mais humano, uma formação voltada para a profissionalização, será difícil avançar na segurança pública;, ressalta o PM, que relata perseguições em seu estado.

Respeito
O baiano Renildo Roseno não toma partido na questão. Militar ou não, o que ele defende é que a polícia respeite os direitos dos homossexuais. ;Somos uma população desprezada. A segurança pública, quando nos nota, é para agredir, quase nunca acolher e ajudar;, reclama Roseno, que faz parte da Associação de Defesa e Proteção dos direitos de homossexuais, cuja sigla é ProHomo. Aproveitando o embalo, Roseno levanta a bandeira do combate à intolerância religiosa, com destaque para atos de violência contra praticantes de credos de origem africana. Amanhã à tarde, todos se juntarão para ouvir o resultado final sobre a política nacional de segurança pública, escolhida por eles próprios por meio de votos durante a Conseg. ;A esperança é que saia do papel;, diz Roseno.


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