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Cinco anos depois de ser expulso do MST, José Rainha funda duas novas entidades e atrai seguidores do antigo grupo

postado em 30/08/2009 10:00
(EL) São Paulo ; Na luta pela reforma agrária, tem poder quem consegue melhor mobilizar a massa. No oeste de São Paulo, maior zona de conflito pela posse da terra, o homem mais poderoso da região chama-se José Rainha Júnior. Ex-dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), ele comanda o maior acampamento do país, conhecido como Deputado Adão Pretto, no município de Araçatuba. Formado por cerca de 1,2 mil famílias, o pessoal acampando à beira de uma estrada vicinal recebe cesta básica semanal e a promessa de um lote feita pelo próprio Zé Rainha.

Desde que foi desligado do MST, em 2004, o líder sem-terra passou a ter vida própria no Pontal do Paranapanema. Para conseguir recursos do governo federal e de organizações não governamentais do exterior, ele fundou duas instituições: a Federação das Associações de Agricultores Familiares do Oeste Paulista (Faafop) e a Patativa do Assaré. Em três anos, as duas entidades já receberam R$ 6,7 milhões em recursos do governo federal e de duas instituições internacionais. ;O nosso acampamento tem três meses. Em breve, terá 3 mil pessoas;, prevê Rainha.

No Pontal do Paranapanema, a luta atual não é apenas por terra. O novo movimento liderado por Rainha, que já comanda uma massa de quase 6 mil colonos, está convencendo agricultores que militam no MST de João Pedro Stédile a mudarem de lado. A maior diferença entre os dois movimentos é que um, o de Rainha, caminha de mãos dadas com o governo federal. O outro, mantém as divergências políticas com o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Rainha apoia a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para presidente ou qualquer outro político que o petista indicar. ;Estamos com o presidente;, frisa o líder.

No novo MST de Zé Rainha tem espaço até para o inusitado. A massa de agricultores que comanda não faz invasões sem antes negociar com os fazendeiros da região. No primeiro semestre deste ano, já foram 44 ocupações pacíficas e negociadas. No ano passado, foram pouco mais de 30. Algumas delas com barulho para chamar a atenção da mídia. ;Estamos em outro tempo. Aquela ocupação em que entramos de surpresa não existe mais. O caminho agora é o diálogo;, avisa.

Negociações
Atualmente, Rainha negocia com dois latifundiários a possibilidade de fazer uma ocupação. Em seguida, a partir de outro diálogo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a terra será desapropriada para fins de loteamento e todo mundo sairá ganhando. ;Preferimos fazer reforma agrária com o Incra, que é mais rápido nas desapropriações. O órgão do governo paulista é lento e corrupto;, diz o líder, referindo-se ao Instituto de Terras de São Paulo (Itesp), ligado governo de José Serra (PSDB).

No MST oficial, ninguém quer ouvir falar de Zé Rainha. Várias notas informam que ele foi desligado do movimento. Rainha não está nem aí. ;Ajudei a fundar o MST. Sou filho do MST e o Stédile é meu pai;, frisou na sexta-feira. Sobre o filho renegado, João Pedro Stédile fez o seguinte comentário na última vez que se pronunciou sobre o tema: ;O Rainha começou a trilhar um caminho que não respeita mais as instâncias às quais estava vinculado. Optou pelo autoafastamento e foi constituindo seu próprio grupo no Pontal do Paranapanema. É um líder de massas;, reconheceu.

Rainha faz questão de dizer que não será candidato a qualquer cargo público e que, em casa, a candidata é a sua esposa, Diolinda Alves, que vai tentar uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo pelo PT. ;O oeste paulista tem 153 assentamentos e todos estão afinados comigo, inclusive as dissidências, como o Mast (Movimento dos Agricultores Sem-Terra);, avisa.

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