Luciane Evans
postado em 02/09/2009 09:48
O medo da gripe suína que ronda as cidades do interior de Minas Gerais se traduz em números e em medidas de precauções cada vez mais rigorosas. Na terça-feira (1/9), o resultado dos primeiros teste feitos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) apontou que mais oito mortes ocorridas no estado foram causadas pela influenza A (H1N1).
Ao todo, Minas registra 22 óbitos em decorrência da doença. Desses, três são em Belo Horizonte, dois não ocorreram dentro dos limites estaduais e o restante, em municípios mineiros, ou seja, 77% das mortes confirmadas estão no interior de Minas.
[SAIBAMAIS]
O temor que se estabelece traz como consequência mudanças em festas tradicionais das cidades, como 7 de setembro, dia em que se comemora a Independência do Brasil, que em muitos lugares não será celebrada.
Os exames feitos pela Funed - anteriormente enviados para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro - confirmaram o óbito de uma mulher de 38 anos internada no centro de terapia intensiva do Hospital Alberto Cavalcanti, em BH, falecida em 13 de agosto.
Além dela, sete pessoas perderam a vida por causa da influenza A nas cidades de Boa Esperança e Virgínia, no Sul de Minas; Araxá e Monte Carmelo, na Região do Alto Paranaíba; Ipatinga, no Vale do Aço; Palma, na Zona da Mata; e Ribeirão das Neves, na Grande BH. Ainda, há 73 mortes sob investigação no estado.
O receio de que o vírus se espalhe ainda mais pelo interior de Minas fez com que algumas cidades adotassem medidas radicais, como o cancelamento da festa em que se celebra em todo o país, tradicionalmente, o dia da Independência do Brasil, em 7 de setembro.
"Resolvemos cancelar todos os eventos da cidade como forma de conter uma transmissão ainda maior em Uberlândia, que já conta com dois óbitos confirmados e 10 sob investigação", revela o coordenador-geral da rede municipal de Saúde, Ademilson Lima e Silva.
"Estamos todos apreensivos com a possibilidade de ocorrer novos casos de contaminação, pois não teremos onde atender os pacientes", diz. Na cidade, 50% dos alunos da rede municipal de ensino não vão às aulas porque os pais estão com medo.
As crianças, que são o brilho da festa do 7 de setembro, são o foco da preocupação. Em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, os pais não permitiram que os pequenos ensaiassem para o desfile com receio de que o contato com outras crianças pudesse fortalecer a propagação do vírus.
Por isso, em nota, a prefeitura informou que "em respeito à apreensão de grande parte dos pais dos estudantes, e considerando que a participação das escolas é fundamental para o brilhantismo da festa, o município decidiu pela não realização do desfile de 7 de setembro, ficando a critério das escolas promover atividades comemorativas à data, sem grandes aglomerações."
O mesmo aconteceu em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço. Em Contagem, na Grande BH, a comemoração será nesta quarta e na quinta, e feita de forma simples. De acordo com a prefeitura, a Guarda Municipal irá em algumas escolas e a bandeira nacional será hasteada. O desfile não vai acontecer.
Em Santo Antônio do Monte, na Região do Centro-Oeste de Minas, o mesmo foi feito e além disso, foi decretada a suspensão das aulas nas escolas públicas, privadas e nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI). Cerca de 6 mil alunos estão sem aulas esta semana e sem previsão de retorno.
Capital
Em Belo Horizonte, o famoso e tradicional desfile de 7 de setembro não será cancelado. Tanto é que o prefeito, Márcio Lacerda, já decretou que no dia 6 a Feira de Artes e Artesanato e Produtores de Variedades da Avenida Afonso Pena terá horário de funcionamento excepcional, encerrando a exposição e venda de produtos às 12h, para montagem da estrutura do desfile, que acontecerá no outro dia.
Em contrapartida, a comemoração que atrai cerca de 8 mil pessoas desde 2005, no Barreiro, foi cancelada. O coordenador-geral do desfile de 7 de setembro naquela região, Aílton Gomes, lamenta o cancelamento da festa cívica e confirma que a programação está garantida para o próximo ano. "Devido aos alertas recebidos, não queremos expor as pessoas ao perigo."
Para conter a transmissão do vírus dentro dos ônibus de Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), em parceria com a BHTrans, começou na terça-feira a fazer intervenções no transporte coletivo da capital. Assim como foi feito na rodoviária na semana passada, atores apresentaram cenas teatrais para os passageiros dos veículos que circulam na Região de Venda Nova informando sobre os cuidados e precauções com a nova gripe. Nesta quarta-feira (2/9), a Região do Barreiro será o palco das atividades e, quinta-feira, será a vez da Estação São Gabriel.
De acordo com a coordenadora do Mobiliza SUS, da SMSA, Ione Costa, a intervenção é importante porque muitos usuários do transporte coletivo não têm acesso às informações veiculadas nos meios de comunicação sobre o vírus. "Esse público tem um déficit de informação. Estávamos recebendo muitas reclamações de que os motoristas não estavam deixando passageiros com máscaras usar o ônibus e que as janelas não estavam sendo abertas. A intenção é esclarecer."