Luciane Evans
postado em 03/09/2009 09:07
Não foram a febre alta, a tosse contínua nem mesmo o isolamento de sete dias. Quem passou pela gripe suína percebeu que o pior do vírus são os olhares de pânico e a discriminação. Assim, o mal silencioso, que ganhou força no Brasil e já registra 647 mortes, trouxe o preconceito.
A comunidade do Colégio Marista Dom Silvérioe, em Belo Horizonte, entende o assunto muito bem. Protagonistas de um surto da doença, iniciado em julho em uma sala de aula e que contaminou 56 pessoas, entre elas funcionários, estudantes, familiares e amigos, os alunos participaram ontem, a pedido da direção da escola, de um debate da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que decidiu entregar hoje ao Comitê Estadual de Enfrentamento ao Influenza A (H1N1) a sugestão de criar campanhas educativas sobre o vírus, nas quais o preconceito seja abordado.
"Um taxista se negou a atender a um chamado de um aluno porque ele era do Dom Silvério. Quando um funcionário se sentou dentro do ônibus com o uniforme da escola uma passageira que estava ao lado se levantou e ninguém mais sentou perto dele. Uma empresa que presta serviço para nós foi capaz de nos ligar de Brasília exigindo que garantíssemos que seus funcionários não iriam pegar a gripe suína. Fomos foco para essa discriminação", contou o diretor do Dom Silvério, Roberto Gameiro, que lamentou a situação vivida pela comunidade escolar e familiares dos alunos.
Um dos contaminados pelo vírus, o aluno Diogo Carvalho, de 16 anos, disse que no prédio onde mora alguns vizinhos pediram para que ele saísse do edifício. Bárbara Souza Ferreira, de 15, aluna do 1º ano do ensino médio, disse que até mesmo no salão de beleza sofreu discriminação. "Quando outras clientes souberam que sou estudante do Dom Silvério, retiraram-se do salão. Isso ocorreu na semana passada. Por mais que haja informações o tempo todo na mídia, as pessoas ainda sentem medo da doença e não conhecem muito sobre ela. Uma audiência pública como essa é fundamental para esclarecer o assunto."
E o preconceito não se limitou à comunidade escolar. O engenheiro eletricista Eduardo Gomes, pai de duas crianças do colégio, lembrou que, quando ocorreu o surto da doença na escola, colegas de trabalho demonstraram receio em conversar com ele. "Naquela época, as pessoas sabiam muito pouco sobre o vírus, por isso, não digo que houve preconceito, mas medo de algo desconhecido", explicou.
Balanços
De acordo com o balanço do Ministério da Saúde, com confirmação laboratorial entre 23 e 29 de agosto, 647 pessoas já perderam a vida no Brasil por gripe suína. O número coloca o Brasil como líder no mundo de casos de mortes causadas pela doença passando até mesmo os Estados Unidos que registram 556 óbitos. Um total de 2.933 mulheres em idade fértil (de 15 a 49 anos) tiveram resultado positivo para o novo vírus e desenvolveram a forma grave da doença. Destas, 620 estavam grávidas. Entre as gestantes, 63 morreram.
Em Minas, já são 24 óbitos confirmados, sendo que os dois últimos que receberem diagnósticos positivos para a doença são de um adolescente de 15 anos, de Nova Lima, na Grande BH, que morreu no dia 19, e de uma mulher, de 47, de Ibiá, no Alto Paranaíba, que morreu no dia 2. Dos mortos em Minas, 50% são do sexo feminino e três delas, gestantes. Ontem, a Secretaria de Estado da Saúde informou que vai descentralizar a dispensação do oseltamivir para Contagem, Betim, Ribeirão das Neves, Ibirité e Ouro Preto.
Tamiflu
O Tribunal Regional Federal da 1ª região reconheceu que a distribuição do medicamento para a gripe suína, o chamado Tamiflu, compete ao estado, não cabendo interferência do Judiciário no assunto. Com o entendimento, o TRF desobrigou o estado a fornecer 300 frascos do remédio ao município de Uberlândia, no Triângulo, e 50 frascos per capita para 14 cidades da região.
Os procuradores do estado esclareceram que Minas tem abastecido as 28 gerências regionais de saúde, sendo quatro delas no Triângulo Mineiro.