postado em 10/09/2009 08:35
O paÃs consome, em média, 1,8 bilhão de remédios a cada ano, segundo dados da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica. Cada um deles traz um papel que todo mundo conhece, mas pouca gente lê: a famosa bula. Mas, a partir de agora, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenta melhorar esse "Ãndice de leitura", procurando deixar as informações mais claras.
Segundo resolução publicada ontem (9/9) no Diário Oficial da União, as empresas farmacêuticas terão que modificar o formato e o conteúdo das bulas de modo a evitar equÃvocos no momento da prescrição e na utilização de medicamentos. O órgão decidiu também pelo atendimento diferenciado ao público portador de deficiência.
A ideia é fazer com que até 2011 todos os produtos disponÃveis no mercado estejam de acordo com as exigências. Algumas delas, por exemplo, já passam a ser cobradas em trinta dias - caso da oferta de bulas para pessoas com deficiência visual. As empresas terão que disponibilizar, mediante solicitação do paciente, o material com formato diferenciado.
O serviço será gratuito e poderá ser oferecido por meio magnético, óptico ou eletrônico, em formato digital ou áudio, em braille, ou ainda, com a letra ampliada, de acordo com a necessidade do paciente. O prazo da empresa para atender o consumidor, nesse caso, será de 10 dias a contar da solicitação.
O limite para os laboratórios se adequarem ao novo formato da bula, no entanto, é bem maior: 270 dias, incluindo o envio para análise da Anvisa e a disponibilização desse material ao consumidor. As mudanças incluem letras maiores e mais espaçadas umas das outras, linguagem didática no formato de perguntas e respostas, textos distintos para o mesmo medicamento em versões diferentes, como em comprimido e em gotas, e informações a atletas quanto à potencialidade da substância causar doping (1), de acordo com as normas do Comitê OlÃmpico Internacional (COI).
Segundo o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Raposo, a separação entre a bula para o paciente e a bula para o profissional de saúde - outra regra adotada pelo órgão - contribuirá para o uso racional dos medicamentos no paÃs. "O Brasil precisava dessa mudança porque havia duas legislações que precisavam ser modernizadas. Temos informações do mercado norte-americano, por exemplo, que dão conta de que metade das pessoas usam medicamento incorreto por desvio de informações e aqui no Brasil não é diferente", relata.
Os medicamentos genéricos e similares - que têm na fórmula o mesmo princÃpio ativo que os produtos conhecidos como convencionais - também entrarão nas regras. Segundo a Anvisa, eles seguirão as bulas-padrões e só poderão diferir no que diz respeito a informações especÃficas dos produtos, como a composição e o prazo de validade, por exemplo.
Segundo o órgão apurou, as bulas desses medicamentos traziam informações insuficientes ao consumidor. Cerca de 2,5 mil produtos de origem genérica passarão por essas modificações no paÃs.
A gerente-geral de medicamentos da Anvisa, Tatiana Lowande, acredita que as mudanças exigidas à s empresas farmacêuticas não serão motivo para aumento dos preços dos produtos. "Nossas normas apenas exigem modificações no padrão e formato do que já é distribuÃdo ao consumidor, então, não vejo justificativa de se repassar um custo adicional ao paciente", ressaltou. O descumprimento das normas da Anvisa implicará a proibição do produto no mercado e a aplicação de multas que variam de R$ 1 mil a R$ 1,5 milhão.
1 - Prática condenável
O doping pode se caracterizar pelo uso indiscriminado de medicamentos feito por atletas de alto desempenho para aumentar o vigor fÃsico nas competições. A prática é recriminada pelo Comitê OlÃmpico Internacional (COI).
Em grandes eventos esportivos, como olimpÃadas e torneios internacionais, a comissão médica do COI realiza uma série de exames com os atletas para detectar o uso dessas substâncias proibidas. A penalidade para quem é pego dopado varia de uma advertência a suspensão definitiva da atividade esportiva.
Ouça entrevista com Dirceu Raposo, diretor-presidente da Anvisa, sobre as novas regras para bulas de remédios