postado em 23/09/2009 07:00
O nome da mobilização explica claramente a intenção: Dia Mundial sem Carro. E assim foi na capital do país e em outras 1.682 cidades que participam do movimento que visa desafogar o trânsito e aliviar o ar dos grandes centros urbanos.Em Brasília, no entanto, as duas principais autoridades responsáveis por promover avanços no transporte urbano e diminuir a emissão de poluentes não conseguiram dar o exemplo. Os ministros do Meio Ambiente, Carlos Minc, e das Cidades, Márcio Fortes, acabaram cedendo à comodidade do automóvel, ainda que com um certo constrangimento.
Na Base Aérea de Brasília, às 13h50, chegou o veículo com a placa oficial, indicando a autoridade que seria transportada: ;Ministro ; Ministério do Meio Ambiente;. Às 14h18, o automóvel deixou o local, que fica a cinco minutos do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. O Correio flagrou o carro saindo da Base Aérea rumo ao Ministério. No banco da frente, o assessor de imprensa de Carlos Minc ainda ensaiou um aceno.
Quase 30 minutos depois do flagra, Minc surge, a pé, para despachar na Esplanada, acompanhado do mesmo assessor que estava com ele no carro, na Base Aérea. Com a pastinha na mão e o já tradicional colete colorido, Minc trava o seguinte diálogo com o Correio.
; O senhor veio para o trabalho a pé, ministro?
; Hoje é o Dia Mundial Sem Carro, temos que contribuir.
; Mas o seu carro foi buscá-lo no aeroporto. Vimos o seu assessor. O senhor se agachou para não ser fotografado, ministro?
Nesse momento, Carlos Minc titubeou e nada respondeu. Mas o assessor de imprensa assumiu a conversa e admitiu que o ministro estava, de fato, no carro.
; É que lá, na Base Aérea, não passa ônibus. Descemos do carro na W3 e viemos até aqui.
Trânsito
Talvez ministro e assessor não saibam, mas o ônibus passa, sim. Dez minutos antes da saída de Minc da Base Aérea ; ele chegava de um encontro com cooperativas de catadores em Belo Horizonte ; um coletivo da linha 102.1 passou em frente ao local. Trinta minutos após o desembarque dele, a mesma linha passaria novamente. Era só esperar.
Mesmo depois do flagra, ainda na porta do ministério, Carlos Minc ressaltou a importância de autoridades darem o exemplo quando decidem incorporar novas condutas ao dia a dia da população. ;Aqui, estamos economizando um monte em energia elétrica. Temos placas solares, captamos água das chuvas, estamos reduzindo muito o uso de papel. É importante dar o exemplo. Como é que eu vou dizer para as pessoas fazerem uma coisa que eu não faço?;, ponderou.
Enquanto aguardava Carlos Minc chegar ao trabalho, o Correio já havia confirmado que ele e seu assessor pessoal haviam deixado a Base Aérea no mesmo carro. A resposta foi dada pela assessoria de imprensa do órgão, logo após o desembarque.
Para o ministro das Cidades, Márcio Fortes, o Dia Mundial Sem Carro também funcionou mais no discurso do que na prática. Na manhã de ontem, ele deixou o terno no armário e optou pela vibrante camiseta laranja, calça folgada, tênis e meião. Na agenda do carioca que toca a pasta responsável por melhorias no trânsito, estavam marcados a abertura de um encontro para prefeitos e o seminário para discutir mobilidade urbana.
Fortes queria dar o bom exemplo. Sem bicicleta em casa, precisou do carro para chegar até a concentração de ciclistas no Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. ;Foi rápido;, admitiu. ;O resto do dia vou me locomover de bicicleta;, disse ao Correio. Só não garantiu que voltaria para casa sobre duas rodas.
Às 9 horas, Fortes pegou emprestada a bicicleta de um funcionário do Ministério e, acompanhado de colegas de trabalho ; dois seguranças que tiveram de suar o terno e usar a camisa da campanha ;, além de ativistas, percorreu o trajeto até o Centro de Convenções. Alheio ao trânsito, o ministro pedalava, acenava e posava para fotos. Para garantir o sucesso da mobilização, uma escolta com quatro carros e duas motos foi acionada.
A proposta do ministro é fazer uma reflexão sobre a violência no trânsito das cidades brasileiras e a poluição provocada pelos veículos. ;Não podemos ter vergonha de andar de bicicleta. Em outros países, é supernormal;, ressaltou, afirmando que o Brasil precisa de ciclovias e bicicletários e a população deve aderir à campanha.
NA BICICLETA ELÉTRICA
Em outras capitais, as autoridades públicas se esmeraram um pouco mais para dar o exemplo no dia em que cidades de todo o mundo fizeram uma campanha pela mobilidade sustentável. No Rio, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) acordou cedo. Com o auxílio de uma bicicleta elétrica, percorreu os quase 20km que separam a residência oficial, na Gávea Pequena, até o Palácio da Cidade, onde despacha. Saiu de casa às 5h39. Chegou no trabalho por volta das 7h. Na capital paulista, o prefeito Gilberto Kassab se uniu à população e foi trabalhar de ônibus. Ele saiu de casa, no bairro de Pinheiros, entrou em um coletivo na Avenida Faria Lima e foi até a Rua Martins Fontes. Desceu e terminou o trajeto a pé até o Viaduto do Chá, onde fica a sede da prefeitura.