Luciane Evans
postado em 23/09/2009 10:00
Ginecologista é uma palavra que ainda soa estranho aos ouvidos de Layra Jane Santos Pereira, de 14 anos. Da mesma forma que conhecer tal profissão, que cuida especificamente da saúde da mulher, ainda não passou pela cabeça de Natália Souza, de 12 anos.
Muito menos de Diomar Braga do Nascimento, de 11 anos, que também não conhece médico da área. O trio de amigas e estudantes retrata uma realidade que autoridades de Saúde querem mudar.
Usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), elas pouco conhecem sobre as possibilidades de cuidar do próprio bem estar, a ser não pelo que aprenderam na escola ou em casa. "Não há uma política pública de saúde para cuidar de nós, adolescentes. Para criança tem, da mesma forma que tem para os idosos", constata Diomar.
Cheios de dúvidas, incertezas e muitas perguntas, os adolescentes, que em Belo Horizonte representam 28,8% da população, segundo dados do IBGE, são o foco da vez. Nesta quarta-feira, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) promove o seminário "Adolescência: horizontes para a saúde", para ouvir jovens usuários do SUS sobre o que falta e o que eles mudariam no sistema. O encontro trará também duas novidades: o lançamento da Caderneta de Saúde do Adolescente e protoloco de atendimento ao paciente nessa faixa etária.
Com a aposta de que no futuro esses jovens serão adultos mais responsáveis e saudáveis, a caderneta é uma cartilha formulada pelo Ministério da Saúde com informações para o adolescente sobre as mudanças físicas e biológicas que ocorrem nesse momento da vida.
Os tópicos abordam direitos ao usar o serviço de saúde, as formas de prevenção às doenças e situações de risco, cuidados com a higiene, saúde bucal e alimentação. São duas cartilhas diferentes, uma voltada para os meninos e outra para as meninas.
"Ha dois anos, testamos com adolescentes da Regional Leste de BH o uso da caderneta. Eles não só aprovaram, como adoraram, se sentiram mais valorizados. Amanhã (hoje) ela será apresentada oficialmente a todos os jovens que vão comparecer no seminário", ressalta Zélia Vasconcelos Cardoso, pediatra e referência técnica da Coordenação de Atenção à Criança e ao Adolescente da secretaria municipal.
De acordo com ela, a cartilha é um documento de identidade dos pacientes na faixa etária dos 10 aos 19 anos. "É como o cartão de vacina das crianças. Ali haverá o peso, tamanho, as outras consultas, as vacinas, ou seja, será um histórico desse menino ou menina pelo SUS. Além de muitas informações", explica.
Nas duas versões, as cadernetas têm 50 páginas e, embora fiquem com o adolescente, há espaços específicos para o profissional de saúde, que deverá preencher e acompanhar o cartão de vacinação e a tabela do índice de massa corporal (IMC), com a estatura para avaliar o desenvolvimento do paciente.
A princípio, segundo Zélia , esse documento só será distribuído nas 18 escolas da capital que implantaram o Programa Saúde na Escola, do governo federal. "O programa tem, entre outros objetivos, aprimorar o vínculo dos adolescentes com os centros de saúde, incentivando o autocuidado, a prevenção", diz. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a expectativa é de que, até o fim deste ano, o programa chegue a 36 escolas. Segundo Zélia, BH recebeu 15 mil cadernetas.
Padrão
Outra novidade é a apresentação do protocolo de saúde do adolescente. "Não adianta incentivarmos os jovens procurar a rede pública de saúde se os profissionais não souberem como tratá-los. Por isso, vamos nos concentrar nessa vertente de que os médicos e enfermeiros precisam saber que estão tratando com pacientes que não são nem crianças nem adultos", destaca.
Ao fim do seminário, os mais de 100 adolescentes que são esperados opinarão sobre o que é negativo e positivo no SUS. Layra Jane já tem o seu palpite para uma mudança. "O que deveria realmente ser efetivo é o maior número de médicos para nos atender. A fila demorada é um problema para pessoas de todas as idades", diz.