postado em 29/09/2009 09:10
O jornalista Rafael Dias, 25 anos, repórter do Diário de Pernambuco, foi agredido na noite de ontem na portaria do jornal por dois rapazes que se identificaram como filhos do vereador do Recife Luiz Vidal, que faleceu no sábado. Rafael foi atingido por um soco no rosto e, sangrando muito pelo nariz, precisou ser socorrido.
Os agressores entraram calmamente na recepção do jornal e perguntaram por Rafael, que se encontrava na redação. Avisado pelos recepcionistas, Rafael foi ao encontro dos rapazes e, ao se identificar, recebeu o soco de um deles, que apontava para uma tatuagem nas costas e afirmava se tratar da imagem de seu pai.
[SAIBAMAIS]
Segundo a repórter Késia Souza e o fotógrafo Roberto Ramos, que presenciaram a agressão, Rafael nem sequer esboçou reação. Em seguida, os agressores foram interpelados por um segurança na porta de entrada do jornal, que também sofreu violência física e foi ameaçado de ser baleado. Ambos diziam que Rafael teria escrito uma matéria denegrindo o nome do pai deles.
"Foi um ato premeditado, covarde e de quem não sabe conviver com a democracia. A agressão atinge todos os jornalistas, porque é um atentado ao direito de um veículo de comunicação de informar seus leitores sobre a morte de um homem público", define a diretora de Redação do Diario de Pernambuco, Vera Ogando. "Não podemos permitir que a violência seja usada para coibir a liberdade de expressão".
Autorizado pela diretoria de Redação, o texto ao qual os agressores teriam se referido foi publicado na edição de ontem no caderno de Vida Urbana do Diario de Pernambuco. A matéria falava do sepultamento do parlamentar e relatava que a antecipação do enterro, ocorrido no domingo, teria causado surpresa aos amigos e correligionários. A cerimônia, seguindo os preceitos judaicos, religião à qual Vidal havia se convertido, tinha sido inicialmente marcada para a terça-feira.
O texto segue relatando que o vereador esteve internado por quase sete meses e que deu entrada no hospital tendo delírios e sentindo dores pelo corpo. A matéria diz ainda que a causa mortis de Vidal é um enigma até para os médicos que o atenderam e levanta a hipótese de que o vereador tenha sido vítima de encefalopatia espongiforme transmissível (BSE, sigla em inglês), mais conhecido como mal da vaca louca.
Quando deixavam o jornal, sob os olhares de vários jornalistas da redação do Diario, os rapazes ainda fizeram menção de estar armados, ameaçaram e provocaram os profissionais que, da janela do primeiro andar, solicitavam que as testemunhas anotassem a numeração do carro utilizado por eles. Os agressores fugiram num veículo Honda Civic preto. Os rapazes se identificaram na portaria como Luiz Vida Filho e Ivo Vidal.
Rafael foi socorrido para o Hospital Esperança pelos companheiros de redação e seguiu para a Delegacia de Santo Amaro para prestar queixa. Ao saber da agressão, vários colegas de redação afirmaram ter atendido pelo menos quatro telefonemas estranhos perguntando por Rafael durante o dia.
Nas ligações, um rapaz que não se identificava alegava estar abrindo um restaurante e se dizia interessado em apresentar o novo empreendimento ao repórter para uma possível matéria de gastronomia.
Numa das vezes, Rafael chegou a atender o telefone, mas o interlocutor desligou assim que escutou a voz do repórter. Segundo uma das colegas de redação de Rafael, o rapaz perguntava insistentemente quando ele estaria de volta ao jornal e se retornaria após o jantar.
A reportagem do Diario de Pernambuco entrou em contato com o ex-chefe de gabinete de Vidal e atual assessor da família, Ramos Queiroz, que comentou o episódio. "Da mesma forma que a família foi moralmente agredida dentro do contexto da matéria, podem ocorrer reações como esta".
Segundo ele, os parentes de Vidal se sentiram incomodados com o teor do texto publicado. "Entendemos a dor da família, Vidal tinha muitos amigos na empresa, mas não podemos deixar de registrar que o Diario sempre respeitou o parlamentar Luiz Vidal, um combatente ferrenho da ditadura e que tanto lutou pela democracia. E esse respeito foi mantido integralmente nas matérias sobre a sua morte, retratando fielmente o legado que ele deixou para a política pernambucana", conclui a diretora Vera Ogando.