Brasil

Familiares das vítimas de acidente da Gol protestam na Câmara

postado em 30/09/2009 10:45
Uma audiência pública na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados marcou os três anos do acidente com o Boeing da Gol, que deixou 154 mortos. Familiares que estiveram no encontro relataram como maior preocupação o risco de prescrição dos crimes pelos quais os pilotos do jato que se chocou com o avião da companhia brasileira respondem na Justiça Federal em Sinop (MT), região onde a aeronave caiu. Embora não tenha enviado nenhum representante à audiência, o Ministério Público Federal (MPF) encaminhou um documento relatando preocupação semelhante. Para o assistente de acusação contratado pelos parentes, Dante d;Aquino, há chances reais de as acusações serem anuladas. ;Especialmente se pensarmos na condenação mínima para o crime de atentado à segurança do tráfego aéreo, de quatro anos e meio, podemos esperar a prescrição já em 2011;, explica o advogado.

; Ouça trechos de entrevista com Dante d;Aquino e Roberto Peterka


Num clima de comoção, Rosane Gutjhar, que perdeu o marido, Rolf, diz recusar a hipótese. ;Não quero acreditar que isso vá acontecer, que esses pilotos ficarão impunes depois de transgredirem todas as regras;, desabafa. Os erros que teriam sido cometidos pelos pilotos foram levantados pelo perito Roberto Peterka, numa investigação paralela à feita pela Aeronáutica, com base em informações oficiais. O MPF, no primeiro semestre deste ano, usou os dados levantados pelo especialista para oferecer nova denúncia à Justiça contra Lepore e Paladino, aceita em junho passado. O não-acionamento do TCAS (sistema anticolisão) é a principal falha verificada por Peterka. ;Verificamos, pelos dados da aeronave contidos na caixa-preta, que não houve nenhuma tentativa de ligar esse aparelho durante todo o voo;, resaltou o perito, que também esteve na audiência ontem.

Peterka foi categórico ao afirmar que não houve falha mecânica, e sim humana. Voar com uma separação vertical de apenas mil pés, em vez de 2 mil pés, foi outra falha verificada no laudo de Peterka. ;O Legacy não é o tipo de aeronave que tem autorização para diminuir essa distância de segurança. Só jatos com margens de erro muito pequenas;, afirmou o perito. Também presente na audiência de ontem, o brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), destacou as 68 recomendações feitas pelo órgão no relatório sobre as causas do acidente, no sentido de evitar novas tragédias. Mas admitiu que não sabe se elas serão adotadas. ;Como muitas delas se dirigem a empresas, como a ExcelAire (dona do jato), e a outros órgãos, a exemplo da ICAO (Organização da Aviação Civil Internacional), a adoção fica a critério de cada um;, esclarece.

Desrespeito

Autora de uma ação judicial contra o jornalista Joe Sharkey, que estava no jato Legacy quando ocorreu o choque com o Boeing da Gol, Rosane Gutjhar ressaltou, durante a audiência, a falta de respeito do americano. ;Ele disse que nós éramos um povo estúpido, tupiniquim, que não sabia resolver nossos problemas. Que aqui só havia samba, carnaval e outras coisas chulas sobre a mulher brasileira. Não podemos aceitar. Meu marido se foi e eu sei que nunca mais o terei fisicamente, mas tenho minha filha, temos nossa dignidade;, destacou a viúva. A ação movida por ela acusa o jornalista de calúnia e difamação.

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