Brasil

Maus motoristas ajudam flanelinhas a burlar a lei em Minas Gerais

postado em 07/10/2009 09:00
Flanelinhas de Belo Horizonte que atuam em quarteirões com estacionamento rotativo adotaram um plano para burlar o sistema, causando imenso prejuízo ao erário e, por tabela, à população. A infração só dá certo se contar com a conivência de motoristas: os maus guardadores e lavadores de carro oferecem duas propostas aos clientes. [SAIBAMAIS] Na hipótese de o fiscal da BHTrans aparecer, o flanelinha preenche o talão e cobra R$ 3,50 pela folha, cuja unidade custa R$ 2,60 nos pontos credenciados pela prefeitura. Porém, caso o agente não visite o lugar, o rotativo em branco fica com o infrator e o condutor lhe dá uma gorjeta de R$ 1 ou R$ 1,50. Mas atenção: aqueles que confiam a chave do veículo ao grupo, acreditando que sairão lucrando com a estratégia, podem ter grande dor de cabeça, pois se o flanelinha não conseguir preencher a folha antes da canetada do fiscal da BHTrans o dono do carro vai pagar R$ 53,20 de multa e receberá três pontos no prontuário da carteira nacional de habilitação (CNH). "De qualquer jeito, eles ganham alguma quantia. Vendendo o Faixazul ou não", observa Sérgio Rocha, gerente de Estacionamento da BHTrans. Ele diz que não há como mensurar o tamanho do prejuízo ao cofre público, mas alguns dados sinalizam que essa quantia é enorme. Isso porque a BHTrans aplicou, apenas no primeiro semestre deste ano, 27.081 mil multas referentes a veículos estacionados no rotativo sem o talão. É o segundo tipo de infração mais cometida pelos motoristas da capital: perde apenas para as autuações feitas pelos radares, que chegaram a 120,6 mil no mesmo período. Outro detalhe: BH tem 634 quarteirões com Faixazul, mas o número total de agentes da autarquia nas ruas é de 400. Vale lembrar que nem todos estão escalados para fiscalizar o Faixazul, pois há profissionais que trabalham em áreas livres do rotativo. O plano dos flanelinhas causa prejuízo ao erário porque reduz a arrecadação do município com a venda do talão. Já a sociedade sai perdendo porque menos dinheiro no caixa da prefeitura significa menos investimentos em obras, educação, saúde, transporte público etc. "A gente sabe que perde, porque estão sempre burlando o sistema", lamenta Sérgio Rocha. Essa infração era comum no quarteirão da Rua Tupis, entre Rua São Paulo e Avenida Amazonas, no Centro, onde dois flanelinhas foram descredenciados pela Administração Regional Centro-Sul depois de serem flagrados no crime. "A gente vê um corre-corre danado quando o agente chega. É flanelinha pulando de um lado para o outro na tentativa de colocar o talão nos carros. Ficam doidos, porque prometem ao condutor tudo o que vem na cabeça na hora de propor o acordo. Dizem, por exemplo, que são amigos do fiscal ou que o agente já passou no quarteirão mais cedo e não voltará naquele dia", acrescenta o gerente da BHTrans. O músico Z., de 35 anos, caiu na arapuca de um mau guardador: "Quando cheguei no carro, a multa estava no para-brisa. Não deu tempo de o rapaz pôr o rotativo". O prejuízo envolvendo o Faixazul não é apenas financeiro. O plano afeta o objetivo do estacionamento rotativo, pois permite que um veículo fique estacionado no local por mais tempo do que o indicado na placa de sinalização. Sérgio Rocha aproveita o assunto para um puxão de orelha nos motoristas: "Temos carros de mais para espaços de menos em Belo Horizonte. Se não houvesse a necessidade da rotatividade, o estacionamento não se chamaria rotativo".

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