Brasil

Haddad emparedado por um vazamento

Problemas na aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio afetam inevitavelmente a imagem do ministro da Educação, Fernando Haddad. Políticos e experts avaliam quais serão os possíveis estragos por conta da crise

postado em 08/10/2009 08:19
O vazamento das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a consequente frustração de professores e alunos por conta do adiamento colocaram o ministro da Educação, Fernando Haddad, em uma posição que, até então, ele ainda não havia ocupado com tanta clareza: o de gerenciador de uma crise nacional e seus naturais desgastes. A dúvida - como sempre ocorre nesses casos - é saber como Haddad se sairá ao fim de um tiroteio inevitável. Até porque, entre as pretensões políticas do ministro, há uma eleição para deputado no ano que vem. Segundo o cientista político Cristiano Noronha, o ministro tem que aproveitar o perfil técnico e a fama de bom negociador para garantir a aplicação dos novos testes em condições perfeitas de segurança e tranquilidade com o objetivo de minimizar os efeitos negativos da crise atual. "No fim das contas, ele não sai morto do episódio, mas teve, sem dúvida, a imagem arranhada. Conseguindo garantir a reaplicação do exame, parte dos efeitos negativos se dissipa", explica Noronha. Para o especialista, o escândalo da fraude ocorre relativamente próximo das eleições, mas talvez não tão perto a ponto de ser lembrado. "Sabemos que a memória das pessoas não é boa, de forma que a repercussão acaba sendo maior que o impacto direto". Mas há quem pense de forma totalmente diferente. Com passagem no mesmo ministério durante a gestão do presidente Lula, o senador Cristovam Buarque critica a solução encontrada por Haddad. De acordo com Cristovam, uma medida tão equivocada quanto o próprio Enem de forma unificada. "Ele conseguiu escolher uma nova data coincidente com outras provas. Continuo insistindo na ideia de se copiar Brasília, implantando um PAS nas universidades", destacou. Apesar das críticas, Cristovam não acredita que a crise atual derrube Haddad. "Ele continua credenciado a ser candidato a presidente ou governador", diz. Isso porque - avalia o ex-ministro - dificilmente a opinião pública colocará nas costas do ministro a responsabilidade pela decisão precipitada de escolher uma empresa cuja incapacidade de realizar um exame do tamanho do Enem era evidente. Na seara política, tal ideia é clara. "Ele não teve culpa do que ocorreu", adianta-se o deputado estadual de São Paulo Fernando Capez (PSDB). Quando questionado sobre como esse fato refletiria numa possível candidatura de Haddad em São Paulo - a deputado, por exemplo - o deputado estadual Adriano Diogo (PT) atribui ao governador José Serra uma campanha que está sendo feita contra o Enem com o intuito de desqualificar o ministro. "O Serra está mobilizando as universidades paulistas a não usarem as notas do Enem para prejudicar o governo Lula", diz. Longo prazo Enquanto isso, pelo menos entre os reitores, o apoio a Haddad tem se mostrado inabalável. Exceto algumas poucas instituições que decidiram desistir de usar a nota do Enem neste ano, não houve, durante os desdobramentos da fraude na avaliação, qualquer posição pública de ataque ou descrédito. Na verdade, a capacidade de negociação e convencimento do ministro perante os dirigentes vem sendo afiada há seis meses, quando ele apresentou a proposta do Enem como seleção unificada para ingresso em universidades públicas do país. Várias concessões foram feitas por Haddad para se chegar a um número razoável de instituições utilizando o Enem em seu vestibular - mais de 40 -, ainda que de forma parcial. Para Mozart Neves Ramos, presidente executivo da entidade Todos Pela Educação e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), há um apoio por parte dos dirigentes de instituições de ensino superior devido à importância do Enem. "Se todos não tivessem convencidos, era fácil achar desculpas para sair". A união por parte do governo, que colocou à disposição de Haddad para a nova aplicação do Enem a Polícia Federal, a Força Nacional e o Exército, é mais um esforço para preservar de qualquer mácula uma área tão importante, na avaliação de Noronha. "Não tomar providências num momento desses,cria uma imagem ruim. O prejuízo eleitoral poderia ser grande. E o governo sabe disso", explica o cientista político. Memória Bolsa para quem pode Outro escândalo de fraude em um dos programas mais elogiados do governo federal, o Universidade para Todos (ProUni), foi denunciado em abril deste ano. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que mais de 30 mil bolsas, parciais ou integrais, poderiam ter sido concedidas a estudantes com renda muito superior à máxima exigida e a outras pessoas que já haviam concluído outro curso superior. O tribunal encontrou ainda cerca de mil estudantes com carros novos (modelos de 2005 a 2008) registrados em seu nome no Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), alguns eram modelos de luxo, como Mitsubishi Pajero, Tracker, Toyota Corolla e Toyota Hilux, entre outros. Na ocasião, o MEC anunciou que havia cortado todos os benefícios suspeitos. Quem é # Nascido em São Paulo # 46 anos # Bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia, sempre pela USP # Além de professor, atuou como analista de investimento, consultor da Fundação de Pesquisas Econômicas (Fipe), chefe de Gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura do Município de São Paulo e secretário executivo do Ministério da Educação # Nomeado em 2005 como ministro da Educação # Cinco livros publicados

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