Agência France-Presse
postado em 09/10/2009 21:37
Membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Gilmar Mauro, afirmou em entrevista à Agência Brasil que a derrubada da lavoura de laranjas em Borebi (SP) foi uma ato de desespero. ;Há um desespero das famílias para resolver uma situação que é muito grave. Tem famílias acampadas há nove anos;, afirmou. ;Nem se imaginava que teria a dimensão e a repercussão que acabou havendo;, completou.A fazenda pertencente a empresa Cutrale foi ocupada pelo MST no último dia 28. Os manifestantes permaneceram até a última quarta-feira (7/10) e, durante o tempo em que estiveram no local, destruíram parte da lavoura de laranja.
Gilmar Mauro negou que a derrubada de parte das árvores da fazenda possa ser qualificado como vandalismo. ;Vandalismo é não cumprir a Constituição Brasileira que prevê a arrecadação de terras que não cumprem a função social;, retrucou.
[SAIBAMAIS]O líder do MST também negou que tenham sido destruídos tratores e equipamentos da propriedade, como afirmam a Cutrale e a Polícia Militar. Ele garante que os equipamentos já estavam danificados antes da chegada dos manifestantes.
O termo vandalismo foi utilizado hoje (9) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se referir a atuação do MST em Borebi.
Para ele, o acontecimento na fazenda de laranjas não foi decisivo para impulsionar a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os repasses do governo federal para o movimento. De acordo com Mauro, já havia intenção por parte de parlamentares ruralistas de instaurar a comissão e o incidente foi utilizado como pretexto.
A presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), disse na quarta-feira (7) que a derrubada de pés de laranja facilitou o recolhimento das assinaturas necessárias para a criação da CPMI.
No entanto, o líder do MST reconheceu que divulgação da ação na fazenda da Cutrale afetou a imagem do movimento junto a população. Ele atribuiu a veiculação dos fatos ocorridos no incidente a uma campanha para tentar desacreditar publicamente o MST. ;O que está se fazendo é um carnaval, da imprensa, dos meios de comunicação e de vários políticos para tentar criminalizar o movimento;.
A instalação da CPMI vai, na avaliação da Mauro, criar um ;palco; para que os opositores da reforma agrária ataquem os movimentos sociais. ;[A CPMI] Vai ser um palco para criminalizar, estigmatizar, não só o Movimento dos Sem Terra, mas outros movimentos no campo. Por isso, a gente não queria que acontecesse essa CPI, para não dar mais esse palco de tentativa de criminalização desse movimento;.
Entretanto, Gilmar Mauro disse que o movimento não tem medo de que suas operações sejam investigadas. ;Não tememos absolutamente nada;, destacou.