Rodrigo Couto
postado em 12/10/2009 10:28
Sob o argumento de não prejudicar ainda mais os cerca de 4,5 milhões de estudantes que se inscreveram no novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - que teve as provas vazadas e acabou remarcado para 5 e 6 de dezembro -, o Ministério da Educação (MEC) estuda medidas para evitar o adiamento do inÃcio das aulas no próximo ano. Uma delas é encurtar as etapas posteriores à divulgação dos resultados, prevista para ocorrer até 5 de fevereiro. Depois dessa data, a pasta vai manter um site onde os alunos que participaram da seleção podem escolher o curso e a universidade em que pretendem estudar (leia quadro). Esse sistema unificado é válido apenas para as instituições de ensino que utilizarão o exame como fase única de ingresso.
Na semana passada, o ministério deu o primeiro passo para evitar alterações no calendário das universidades e decidiu que os postulantes a vagas que serão selecionados apenas pelo Enem deverão ter três opções de curso, e não mais cinco, como estava previsto antes do furto das provas. A ideia de redução das possibilidades é para enxugar o processo. "Ainda não podemos avaliar se a mudança da data do exame vai prejudicar o cronograma da universidade. Dependemos de uma resposta do MEC sobre a confirmação da redução do tempo para os alunos definirem o que e onde pretendem passar os próximos anos de sua vida acadêmica", pondera Lucia Sampaio, assessora da reitoria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para assuntos de vestibular.
Já Edward Madureira, reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), que define no próximo dia 15 se vai utilizar 40% da nota do Enem para a primeira fase, admite que a divulgação dos resultados em até 5 de fevereiro ficou um pouco apertada. "Entretanto, como o MEC prometeu entregar as redações e as provas objetivas nessa data, acredito que não haverá grandes problemas. Quem prestar vestibular para a UFG não precisará utilizar o sistema unificado (site) para escolher o curso, uma vez que a universidade ainda estuda adotar parte da nota do exame apenas para a primeira etapa", explica.
Imagem negativa
Desacreditados com o Enem, depois da divulgação do vazamento da prova, estudantes do colégio Sigma afirmaram que a divulgação do resultado em fevereiro pode prejudicar o inÃcio das aulas do ano letivo nas universidades federais que vão utilizar a nota do Enem. Moradora do Cruzeiro, a aluna Mariana Valle, 17 anos, que pretende estudar história na Universidade de BrasÃlia (UnB), não está segura do cumprimento do prazo. "Não acredito, por isso vou centrar forças na UnB mesmo". Já De Hong Jung, 17 anos, postulante a uma vaga no curso de engenharia mecatrônica, não sabe nem se vai fazer as provas. "Dia 22 de novembro vou prestar vestibular para a USP, em 29 para a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), 13 de dezembro faço o PAS (Programa de Avaliação Seriada) e 19 o vestibular da UnB. Como o Enem vai cair justamente no meio dessas provas, acho que vou deixar de fazer para descansar e centrar forças nas outras avaliações".
Pessimista, Paula Fernandes, 17 anos, que pretende cursar engenharia civil, acha até que o Enem vai acabar no próximo ano. "Estou me preparando só para a UnB mesmo. O Enem não serve para entrar, apenas na avaliação de conhecimentos. Respondi à s questões dessa prova que vazou e acertei mais de 80% dos quesitos. Estava dentro das minhas expectativas", afirma a moradora de Ãguas Claras. Ao contrário dos outros colegas, Carolina Almeida, 17 anos, vai contar com a nota do Enem para conseguir uma vaga no curso de ciências contábeis na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Se o resultado sair tarde, não sei se poderei esperar para decidir onde vou estudar", reclama a estudante, que mora no Park Way. Além da UFRJ, que tem inscrições abertas até 29 de outubro, a aluna do ensino médio pretende concorrer a vagas na UnB e na UFMG. "O certo é que a importância do Enem não vai ser como antes", salienta.
Quatro áreas
As disciplinas da prova do Enem foram divididas em quatro grandes áreas do conhecimento: matemática, linguagens (português), ciências da natureza (quÃmica, fÃsica e biologia) e ciências humanas (geografia, história, filosofia e sociologia).
Faltou discussão
Na opinião de José França, coordenador da secretaria de vestibulares do Sigma, além dos alunos e das universidades, as escolas de ensino médio também tiveram prejuÃzos com o adiamento do Enem. "Educação não pode ser feita com tamanha impropriedade. Requer tempo e planejamento", observa. Ainda de acordo com o professor, o vazamento do caderno de provas era previsÃvel. "Um paÃs com dimensão continental, com alto Ãndice de corrupção, e com 4,5 milhões de estudantes envolvidos nesse processo, seria muita ingenuidade achar que não poderia acontecer nada de errado", critica. Apesar de avaliar que a educação precisa de novos projetos, França lembra que o MEC poderia ter discutido o assunto com mais profundidade, a exemplo do que ocorreu com o PAS. "Em 1995, participei dos debates da criação do programa. Todo mundo colaborou com o aperfeiçoamento, por isso a iniciativa da UnB é um sucesso copiado por diversas universidades do paÃs", cita. Para ele, no caso do Enem, os interesses polÃticos prevaleceram sobre os educacionais.
Além de selecionar os estudantes às vagas das universidades federais que utilizarão o Enem como única etapa de seleção, o exame também vale como critério de ingresso para o Programa Universidade Para Todos (ProUni), segundo o qual a União troca impostos federais por bolsas integrais ou de 50% do valor da mensalidade para alunos de baixa renda em universidades particulares.
Ouça áudio com Edward Madureira, Reitor da UFG