Brasil

CNTE aponta envelhecimento dos professores e desinteresse pelo magistério

postado em 15/10/2009 08:05
Os professores brasileiros comemoram nesta quinta-feira (15/10) o seu dia na expectativa de que a Lei do Piso Salarial Profissional, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada em julho do ano passado pelo presidente da República, finalmente ;pegue; e seja adotada por todas unidades da federação.

;O grande presente que poderia ser dado aos professores neste momento é o reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal da constitucionalidade da Lei 11.738 que estabeleceu o piso nacional para os docentes;, assinala Roberto Franklin Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE).

A adoção do piso e a melhoria da carreira podem reverter o envelhecimento da profissão e o desinteresse dos mais jovens pelo magistério, acredita Leão. Segundo ele, a falta de renovação já compromete a disponibilidade de professores de matemática, química, física e biologia.

;O salário é muito baixo. A perspectiva de fazer o percurso da carreira é muito obscura, sujeita a toda sorte de sobressaltos. O professor precisa saber o que lhe espera nesses 25 ou 30 anos que ele percorre durante a vida profissional;, aponta o presidente da CNTE.

[SAIBAMAIS]Roberto Leão vê no Poder Público a responsabilidade de reverter o quadro. ;Se não houver por parte das autoridades responsáveis pela educação uma vontade de tornar a carreira do magistério mais atraente, nós vamos passar por dificuldades maiores do que as atuais;, diz, criticando processos de avaliação dos professores baseada no desempenho dos alunos. ;É injusto. Não se pode avaliar o professor pela nota que recebe o aluno sem considerar as condições de vida do estudante, a origem familiar e os espaços sociais que frequenta;.

Aos problemas da carreira do magistério, o presidente da CNTE associa a violência na escola, a indisciplina e a má criação dos alunos. ;A violência não é uma coisa da escola. A violência está na sociedade e a escola faz parte da realidade. Mas essa situação de violência também é sim um fator para que as pessoas pensem: ;eu ganho pouco, não tenho carreira, eu ainda vou me sujeitar a ser agredido por um menino?;;, ressalta.

Na opinião do historiador e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Jaime Pinsky, o magistério não tem mais prestígio e em sala de aula o professor lida com uma maior a irreverência dos alunos, ;que às vezes ultrapassa os limites da educação;, diz, acrescentando que em todos os níveis sociais os pais estão ;terceirizando; as funções da família para a escolas e estão cobrando dos professores responsabilidades que não são suas.

Para Leão, ;a escola precisa ficar atraente para os alunos. Por mais pobre que os alunos sejam, há a possibilidade de eles estarem em contato com as novas tecnologias. Há um descompasso: enquanto os alunos são digitais, a escola é analógica;.

Jaime Pinsky avalia que o papel do professor mudou nos tempos de internet, celular e notebook. ;Não cabe mais levar informação, mas relacioná-las e transformá-las em conhecimento;. Para ele, a mudança exige formação teórica mais sólida dos professores e mais leitura.

;Em geral, os professores lêem muito pouco. Muitas vezes, utilizam os próprios manuais e livros didáticos que adotam para aprender sobre o conteúdo que precisam ministrar. Se a publicação tem falhas, ele não tem conhecimento para superar essas lacunas;, afirma Pinsky. O historiador lamenta o ;pacto da mediocridade; entre escola, professor e aluno. ;Um finge que aprende. O outro finge que ensina. O empregador finge que paga bem;.

Perguntado em entrevista coletiva sobre os problemas de formação dos professores, o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que o MEC está possibilitando ;acesso irrestrito; dos docentes à universidade pública. ;Por isso, lançamos o Plano Nacional de Formação de Professores para que todo professor possa ter uma formação adequada. Os 50 mil primeiros professores já foram inscritos e vamos reabrir as inscrições para o primeiro semestre de 2010".

O plano oferece formação a três perfis diferentes de profissionais: primeira licenciatura para professores que não têm curso superior; segunda licenciatura para aqueles que já são formados, mas lecionam em áreas diferentes da que se graduaram; e licenciatura para bacharéis que necessitam de complementação para o exercício do magistério. Segundo o MEC, até 2011 serão oferecidas 331 mil vagas em universidades públicas, reservadas exclusivamente pelo plano.

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