Brasil

Pesquisa revela dificuldade de portadores do HIV em contar para o parceiro

Rodrigo Couto
postado em 18/10/2009 08:00
Quando um paciente recebe resultado positivo para o HIV ; que, até há alguns anos, era considerado uma sentença de morte ;, ele se depara com a difícil missão de informar o parceiro sexual sobre o diagnóstico. Com medo, muitos não contam. E outros buscam a ajuda de profissionais de saúde. A comunicação é essencial para impedir o avanço da Aids. A responsabilidade de médicos, enfermeiros e psicólogos nesse processo foi tema de uma pesquisa conduzida por Neide Emy Kurokawa, do Serviço Especializado em Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/Aids) da Prefeitura de São Paulo. ()

Realizado com profissionais de saúde e pacientes usuários do sistema paulistano de saúde especializado em DST e Aids, o levantamento teve o objetivo de verificar as estratégias dos profissionais de saúde na comunicação do resultado positivo para Aids aos parceiros. Embora não seja obrigatória, a medida é apontada como importante para o controle do HIV no país. ;Ao contrário do Brasil, os Estados Unidos e algumas nações da África dão um prazo para o soropositivo comunicar o resultado a seus companheiros. A adoção dessa medida em nosso país será onerosa e traria, teoricamente, poucos resultados positivos;, analisa Neide.

Segundo a autora, um dos maiores problemas relatados é a reação dos parceiros. ;Há casos de violência e de reações inesperadas. Por isso, é necessária uma preparação ;, avalia.

Na década de 1960, diferentemente de hoje, a vigilância em saúde visitava a casa do doente e verificava se o paciente já havia informado seus companheiros. Caso contrário, os profissionais tinham a missão de comunicar os parceiros. Infectologista do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da rodoviária do Plano Piloto, Sonia Geraldes explica que a pessoa que descobriu ser portadora de HIV precisa de um tempo para comunicar o parceiro. ;Cada um tem seu momento para contar;.

Com 53 anos, Luiz Alberto*, garçom desempregado desde 2000, luta contra os efeitos devastadoras da Aids desde 1998. ;Quando fiz o exame, já desconfiava que estava com a doença, pois aprontei muito no Conic e não usava preservativos com frequência;, diz Luiz, homossexual, ao lembrar que não teve paciência com a enfermeira que ficou encarregada de comunicar o resultado do exame.

Debilitado com a doença, Luiz afirma que está na segunda fase ; de um total de três etapas ; do tratamento da enfermidade oferecido pelo Ministério da Saúde. Sem condições financeiras de se sustentar, ele mora na Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale), localizada no Recanto das Emas desde 2000. ;Na época, não contei para o meu namorado que estava doente porque já desconfiava que ele também estava infectado. Nós terminamos em 2002. No ano seguinte, fiquei sabendo que ele morreu, pois não tomava os antirretrovirais;, salienta.

*Nome fictício a pedido do entrevistado

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