postado em 19/10/2009 08:22
Depois de uma das demonstrações mais impressionantes do poder de fogo do tráfico no Rio de Janeiro, o governo do estado deflagrou uma ofensiva para conter a guerra entre facções criminosas. Já na noite do último sábado (17/10) dois mil homens das polícias civil e militar foram deslocados para os locais de conflito, na zona norte da capital carioca. A PM chegou a montar um gabinete para o gerenciamento de crise, na tentativa de controlar a situação. Durante o domingo (18) subiu para 19 o número de vítimas da onda de violência que abateu a cidade no fim de semana. Segundo o último boletim, dois policiais, 14 criminosos e três moradores das comunidades teriam perdido a vida por conta dos confrontos. Ontem, quatro pessoas foram presas durante uma ação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) no Jacarezinho. Ao final da operação, 300 quilos de maconha foram apreendidos.Na tentativa de responder aos ataques que deixaram os cariocas em pânico, o governo organizou incursões a comunidades da Zona Norte do Rio para identificar criminosos que participaram dos confrontos durante o fim de semana. A polícia fez buscas nos morros São João, Quieto e dos Macacos, e nas favelas da Matriz e do Jacarezinho. As entradas da maior favela da cidade, a Rocinha, na Zona Sul, passaram a ser monitoradas.
Ainda ontem, no morro São João, foram realizadas buscas por mais três corpos. Até o fechamento desta edição, dois deles foram localizados. Não havia informações, porém, de que se tratavam de vítimas do confronto.
Terror
A onda de crimes teve início na manhã do último sábado, quando traficantes de uma facção rival criminosa invadiram o Morro dos Macacos (Zona Norte do Rio) para tomar pontos de venda de drogas. Durante o confronto entre os bandidos, um helicóptero da Polícia Militar foi alvejado pelos traficantes, e acabou explodindo após um pouso forçado. Dos seis policiais que estavam a bordo, dois morreram e outros dois sofreram queimaduras, sendo que um está em estado grave.
A polícia ainda investiga o calibre da arma que abateu o helicóptero. ;Nós sabemos que os criminosos têm armas longas, fuzis de calibre 7.62 e 5.56. São armas que o projétil alcança longas distâncias e tem alto poder de perfuração de chapas. Ainda não sabemos qual foi a arma que derrubou o helicóptero;, afirmou o chefe da Polícia Civil, Alan Turnowski. No entanto, ele defendeu que a aeronave era resistente e permitiu ao piloto executar um pouso em ;área segura;. A aeronave era parcialmente blindada.
O piloto da PM conseguiu, mesmo após ter o veículo atingido, levá-lo para pouso em um campo de futebol, evitando que a aeronave caísse sobre moradores da região. ;O helicóptero não caiu totalmente, o piloto fez um pouso forçado, até conseguir aterrissar em uma área segura. Ele livrou o helicóptero de cair sobre várias casas;, completou o chefe da Polícia Civil.
A polícia atribuiu aos criminosos que invadiram o Morro dos Macacos, outras ações, como o incêndio de oito ônibus em acessos que levam à Favela do Jacarezinho, no Jacaré, outro bairro da região. O objetivo seria desviar a atenção dos policiais da disputa que ocorria no Morro dos Macacos.
Ação conhecida
A inteligência da PM disse que já sabia que o Morro dos Macacos seria invadido por traficantes rivais, a informação foi dada em entrevista coletiva do secretário de Segurança Pública, José Maria Beltrame. Segundo ele, policiais foram deslocados para a entrada principal do morro, mas como a área é muito grande, não teria sido possível monitorar todo o espaço.
Segundo a inteligência da PM carioca, os invasores teriam subido o morro a pé, para não serem percebidos. O secretário de segurança do Rio tentou amenizar o impacto dos confrontos, dizendo que a polícia tem conseguido antecipar ;mais de 80%; dos confrontos que ocorrem em morros.
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, recusou uma intervenção imediata da Força Nacional para auxiliar o combate à onda de violência que deixou estarrecidos os cariocas durante o fim de semana. Em entrevista, Cabral afirmou que a política de segurança pública não vai mudar. ;Já tomamos as medidas necessárias para reagir a esse tipo de organização criminosa. Temos que ter uma luta permanente luta contra o crime. Vamos continuar nessa linha. Não muda nada, continua a mesma política;, disse.
Afroreggae
A sensação de insegurança na capital carioca não se restringe às zonas de conflito. Na madrugada de ontem o coordenador da Equipe Técnica Social do grupo cultural Afroreggae, Evandro João Silva, foi assassinado por assaltantes, no centro do Rio de Janeiro.
Silva estava dentro do carro quando foi abordado por dois homens. Os assaltantes levaram o tênis, o celular e a carteira de Silva e dispararam uma vez contra ele. Segundo testemunhas, Evandro chegou a pedir socorro, mas morreu enquanto aguardava o resgate. O corpo do ativista foi levado para o IML (Instituto Médico-Legal) e o carro foi encaminhado para perícia. A investigação do caso será conduzida pelo 1;DP (Praça Mauá).