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Gari devolve R$ 5,7 mil a cofre de banco em Divinópolis

Simone Lima
postado em 24/10/2009 14:12
Funcionário público de Divinópolis, a 120 quilômetros de Belo Horizonte, na Região Centro-Oeste de Minas, Carlos Corgozinho, de 38 anos, é exemplo de honestidade e de cidadão responsável. Ao tentar sacar R$ 2 do caixa eletrônico, a máquina liberou R$ 5.732. Mesmo com muitas contas a pagar, ele devolveu o dinheiro ao banco. Para surpresa do trabalhador, a agência não aceitou a devolução, alegando que não havia detectado nenhum erro nas máquinas ou na câmera de segurança. Mais uma vez, foi preciso superar a tentação. Durante três dias as notas ficaram escondidas no guarda-roupa da casa do gari, até que, finalmente, a instituição financeira entrou em contato perguntando sobre o saque. Corgozinho conta que precisava dos R$ 2 para comprar cigarro picado e foi à agência do Banco Real, onde recebe o salário, fazer o saque. Ele digitou o número errado e a máquina liberou R$ 20. Com o saldo de R$ 2,40, o servidor achou estranha a aprovação para retirada do dinheiro na conta e tentou sacar R$ 50. "Toda vez que digitava o número, a máquina liberava o dinheiro. Mudei de caixa eletrônico para ver se era problema de uma máquina só, mas no outro o dinheiro também era liberado sem problemas". Quando percebeu que tinha mais de R$ 5 mil nas mãos, Corgozinho ficou assustado. A quantia equivale a 12 meses de trabalho do servidor. Sem saber o que fazer, levou o dinheiro para casa e o entregou ao pai, que enrolou as notas em um jornal, pôs o embrulho numa bermuda e a escondeu no fundo do guarda-roupa. Com medo de que o erro da máquina pudesse trazer problemas e prejudicasse a família, o servidor pediu conselho ao diretor da Empresa Municipal de Obras Públicas, onde trabalha na área de serviços gerais. "Sempre fui honesto. Nem nos momentos de maior dificuldade precisei pegar dinheiro que não seja meu". Acompanhado do diretor Hebert Lourenço, Corgozinho foi à agência bancária e, ao contar o que havia ocorrido, a gerência verificou o sistema. Mas nenhum erro foi detectado. Nesse caso, a instituição não pode receber o valor. "Falaram que nem a câmera de segurança havia registrado qualquer movimentação diferente. Então, voltei para casa com toda aquela quantia no bolso", lembra. Consciência Em vez de aproveitar a oportunidade para pagar as contas, o servidor preferiu esperar. Durante três dias ninguém deu falta dos mais de R$ 5 mil. Até que, no fim da semana, ele recebeu uma ligação do banco, explicando que funcionários haviam percebido algo errado nas contas da agência. "O dinheiro não era meu. Era um valor alto e sabia que alguém viria me procurar. Por isso deixei guardado. No dia que eles me ligaram, fui lá e devolvi", diz. Corgozinho mora com os pais e o irmão mais velho no Bairro Porto Velho. A renda da família se resume à pensão da aposentadoria do pai e ao salário mínimo do servidor, que somam cerca de R$ 700. Contas atrasadas e a pensão de R$ 140 que ele paga mensalmente ao filho de 9 anos consomem toda a quantia que recebe da prefeitura. Os R$ 5.732 resolveriam muitos problemas, mas com bom humor e simpatia Corgozinho ensina: "Não há dinheiro que pague uma consciência tranquila. Espero estar passando uma boa lição de vida ao meu filho". Orgulhoso do funcionário, Herbert Lourenço afirma que não esperava outra atitude de Corgozinho, que sempre mostrou ser honesto: "É bom saber que ainda há pessoas assim no mundo". O Banco Real preferiu não comentar o caso, mas entregou ao servidor um documento eximindo-o de qualquer responsabilidade sobre o erro no caixa eletrônico.

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