postado em 29/10/2009 17:29
Caxambu (MG) - A falta de investigação sobre os atos ilícitos das policias (militar, civil, federal) e do Exército em todo o país torna o combate a violência pouco efetivo e não ataca uma das raízes do problema: o fornecimento de arma para traficantes. A avaliação é da antropóloga Alba Zaluar, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e uma das maiores especialistas do tema no Brasil.;Os moradores de favela que entrevistamos sempre informaram que ;são os policiais que trazem as armas;. Ex-traficantes que também entrevistamos disseram que tinham alguns policiais que emprestavam armas em troca de algum pagamento que era feito na divisão do roubo;, conta ela, que participa do 33; Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).
Segundo ela, as entrevistas mostram que não há preocupação das Forças Armadas e da Polícia Militar em investigar quem leva armas para os traficantes. ;Nunca fizeram um investigação séria para desmantelar isso;, aponta. ;Imaginar que essa questão vai se resolver colocando um soldado em cada ponto da fronteira é besteira. Fronteira é difícil de controlar.;
O Exército, diz Alba Zaluar, controla todos os registros de armas e munições do país, porém não passa a informação para a polícia. ;A Polícia Militar, por sua vez, e os policiais civis, também, podem comprar três armas a cada dois anos. Essas armas acabam sendo vendidas. Você tem um mercado aí que acaba sendo muito movimentado.;
Na avaliação da antropóloga, o fornecimento ilícito de armas é antigo. ;Desde 1980, ouço falar de granada, fuzil e revólveres que sempre foram armamentos exclusivos das Forças Armadas. No regime militar, isso já ocorria.;
A antropóloga assinala que, além do controle dos traficantes sobre o território e os moradores das favelas, também há as milícias. ;Elas só fazem uma coisa: controlam as armas. Não deixam entrar. Então, tem menos crime, tem menos homicídio. Menos crime de rua, mas eles mesmos são criminosos, exploram, cobram taxas para o negócio mobiliário, vendem gás mais caro, fazem um transporte alternativo que gera um caos na cidade.;
Alba Zaluar acredita que seja possível diminuir a violência nas cidades brasileiras, mas não acabar com o tráfico de drogas. ;Não se acabou em lugar nenhum. É preciso fazer com que os traficantes abandonem a corrida armamentista. Deixem de lado a ideia de dominar território.;
Segundo ela, uma eventual descriminalização das drogas, que defende há 20 anos, só pode ser implementada após o desarmamento dos traficantes. ;Tem que desarmá-los e depois dissolver a formação desses pequenos exércitos, ganhar essa molecada para fazer outra coisa. Mostrando para eles que há outros modelos;, avalia.