Um pequeno avião carregado com cocaína por pouco não foi abatido por uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) nas proximidades de Cristalina (GO), a 140km de Brasília, no fim da tarde dessa quinta-feira (29/10). Os pilotos receberam alerta para que pousassem imediatamente, mas decidiram prosseguir viagem. O Tucano da FAB disparou um tiro de advertência, mas os criminosos não se intimidaram. Em seguida, os militares efetuaram outros dois tiros de abate, forçando os traficantes a aterrissar a aeronave em uma fazenda. Os criminosos ; as autoridades não souberam precisar quantos ; fugiram se embrenhando na mata.
Segundo fontes da Polícia Federal, o avião vinha da Bolívia, com cerca de 150 quilos de cocaína, quando foi interceptado já sobre o espaço aéreo de Goiás. Os pilotos da FAB pediram a identificação e a origem da aeronave, mas não receberam respostas. Depois de dar o primeiro tiro de advertência, conforme determina a Lei do Abate(1), os traficantes desviaram a rota do voo, retornando em direção à Bolívia. Os militares pediram autorização do Comando da Aeronáutica, que consentiu com o tiro para abater a aeronave não identificada.
;Foram dados dois tiros para acertar o avião;, explicou a fonte da PF, que pediu anonimato. Ao perceberem que poderiam cair, os traficantes decidiram voltar à rota original e aterrissar. Os policiais federais que seguiram para o local não sabiam informar a nacionalidade do [SAIBAMAIS]avião, nem precisar o total de cocaína que ele carregava, mas calcularam em cerca de 150 quilos. Esse foi o segundo caso no país em que a FAB atira em uma aeronave suspeita. O primeiro aconteceu em junho, em Rondônia. Mas até hoje, desde a instituição da Lei do Abate, nenhuma aeronave chegou a cair após ser interceptada.
Próximo ao local do pouso, a PF apreendeu um veículo que estava escondido na mata. Os agentes acreditam que o carro seria utilizado pelos traficantes. Dezenas de policiais federais das superintendências de Goiás e do Distrito Federal seguiram para o local, depois de avisados pela FAB. Todo o material recolhido na aeronave seria transportado para Brasília, inclusive a cocaína apreendida. A PF não tem pistas dos traficantes, nem sabia informar o destino da droga. O avião, depois de passar por uma perícia, deverá ser trazido ao Distrito Federal.
1- Destruição
A Lei do Tiro de Destruição, nome original da Lei do Abate, criada em 2004, permite disparos em aviões suspeitos em duas ocasiões: quando o piloto da aeronave não obedece às medidas de averiguação, que consistem no reconhecimento da distância, confirmação de matrícula, contatos via rádio e sinais visuais; e quando não é obedecida a determinação de mudança na rota e pouso obrigatório. São disparados os tiros de advertência e, em seguida, uma rajada de destruição.
Memória
Novos caminhos do entorpecente
Goiás se tornou rota alternativa do tráfico boliviano, hoje, o que mais cresce na América do Sul, conforme mostrou reportagem do Correio em agosto passado. Pequenos aviões partem das regiões bolivianas produtoras de coca e voam diretamente para pistas clandestinas construídas em fazendas ou no meio da mata goiana. Há dois meses, a FAB interceptou um avião, em Mato Grosso, que partiu de uma pista clandestina próxima de Caiapônia (GO). Depois da apreensão de mais de 400 quilos da droga, a Polícia Federal começou a trabalhar intensamente na região, utilizada por traficantes que tentam evitar rotas conhecidas para carregamentos de grande quantidade de cocaína, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre.