postado em 31/10/2009 18:00
As lideranças comunitárias do Rio de Janeiro e a cúpula da segurança pública do estado deram neste sábado (31/11) um importante passo para uma parceria que pode frear o tráfico de drogas nas favelas. Em um seminário promovido pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, representantes das comunidade e autoridades discutiram formas de diminuir a distância entre eles e trabalhar juntos para combater a violência.
O secretário de Segurança Pública do estado, José Mariano Beltrame, abriu o encontro destacando que "os conselhos comunitários devem ser os olhos da polícia nas favelas" e que os moradores precisam procurar os comandantes das áreas para informar sobre fatos que ocorrem nos locais onde moram.
"A gente precisa da comunidade, porque segurança pública não é só polícia. Às vezes, a partir de uma informação pontual, iniciamos um trabalho de inteligência para combater o crime", disse Beltrame.
Ele lembrou ainda que, às vezes, a população vive um momento de insegurança porque os outros serviços do Estado não chegaram. "Uma simples poda de árvore pode nos facilitar muito na redução do índice de roubo a transeunte. Outro exemplo é a coleta de lixo na rua, a retirada de tapumes que muitas vezes servem de esconderijos para marginais. Então, a população pode nos ajudar muito", exemplificou.
Canal com a comunidade
Os líderes comunitários saíram do encontro satisfeitos com a proposta de estabelecer um canal direto entre as comunidades, o comando da Polícia Militar e a chefia da Polícia Civil, mas deixaram claro que a questão da abordagem policial nas favelas precisa mudar. Eles disseram que a forma agressiva com que os policiais chegam às comunidades assusta os moradores e muitos deles acabam não confiando na polícia.
Sebastião da Silva, do Morro do Estado, em Niterói, e delegado da Conferência Nacional de Direitos Humanos, disse que muitos policiais agem com truculência ao entrar nas favelas e os moradores, que já estão fragilizados com a atuação dos grupos armados, sentem-se ainda mais desprotegidos. Ele defendeu que o governo faça mais investimentos na área social para enfrentar o crime organizado.
"Se a comunidade não acredita na polícia, ela se sente fragilizada até para buscar essa interação. Então, a única mudança que vejo é justamente capacitar essas lideranças para que elas sejam elementos multiplicadores dentro das favelas e a partir daí trabalhar com essa população nas áreas de educação, esporte, lazer e saúde, para depois implementar as ações de segurança pública", acrescentou Tião Cidadão, como é conhecido.
Ele admitiu, no entanto, que esta parceria das comunidades com a polícia fica ainda mais difícil nos territórios ocupados pelas milícias. Segundo ele, nesses locais, o medo dos moradores em denunciar a atuação desses grupos é maior do que nas áreas controladas por traficantes de drogas.
"Nas favelas controladas pelas milícias, em que os moradores são obrigados a pagar por serviços de segurança, Tv a cabo e gás, até as redes sociais encontram dificuldade em iniciar projetos", lamentou.
Sobre a atuação das milícias, o secretário José Mariano Beltrame informou que o combate a esses grupos vem sendo intensificado.