Jornal Correio Braziliense

Brasil

Versão potente da maconha é produzida no Brasil

Avaliação é de que um agrotóxico utilizado normalmente na agricultura é aplicado nas plantações ilegais. A substância aumenta a floração da planta e a concentração do THC, tornando os efeitos psicotrópicos mais fortes e viciantes

O Brasil já está produzindo no Nordeste o skank, um tipo de maconha com efeitos psicotrópicos e viciantes bem maiores que a droga comum. Para isso, produtores estão utilizando um tipo de agrotóxico liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e utilizado normalmente na agricultura. O produto faz com que a planta cresça de forma mais rápida e diminua de tamanho. A descoberta foi feita pela Polícia Federal, que encontrou galões de Paclobutrazol durante operações de erradicação em alguns estados da região. A PF poderá vir a controlar a venda da substância no Nordeste para evitar seu uso nos cultivos de maconha.[SAIBAMAIS]

Um relatório do Setor de Investigação de Desvio de Produtos Químicos da PF, obtido pelo Correio com exclusividade, mostra que a supermaconha já existe no Brasil. O documento é resultado de uma análise feita na substância encontrada pelos agentes federais nas plantações. Para que a maconha esteja pronta para ser colhida, são necessários 120 dias. O processo envolve quase as mesmas técnicas de algumas plantações agrícolas. Nos primeiros 30 dias, as sementes germinam em sementeiras. Depois, são transportadas para covas, onde permanecem por mais 90 dias. O agrotóxico seria usado justamente para encurtar esse tempo.

;A prática de se utilizar o Paclobutrazol pode não somente fornecer maconha mais florida e mais forte (skank), como também permitir que seu tamanho seja diminuído (o que pode facilitar a camuflagem quando a técnica empregada é a mera visualização aérea) e encurtar o tempo de maturação (possivelmente para dois meses), este último fato certamente deverá ter impacto em operações de maconha que, comprovadas tais questões, deveriam ser levadas a efeito de mês em mês;, observam os peritos da PF.

O agrotóxico aumenta o florescimento da planta e permite que haja uma maior concentração de tetrahidrocanabinol (THC)(1), responsável pelos efeitos psicotrópicos da droga. ;Diante disso, as plantas mais floridas seriam aquelas em que mais THC seria encontrado, o que tornaria a espécie de melhor qualidade, sobretudo no comércio ilícito de maconha;, diz o relatório da Polícia Federal. ;O caso em tela parece ser uma outra forma de produção deste skank induzindo a sua floração por meio de um inibidor do ácido giberélico, permitindo que chegue ao mercado uma maconha com maior teor de THC (portanto mais forte e com mais efeitos psicotrópicos e viciantes), possivelmente mais cara que as maconhas normais;, acrescenta o relatório.

Segundo a avaliação do perito da PF, Marcos Camargo, que assina o documento, ainda não é possível avaliar os efeitos do agrotóxico nos viciados em maconha. ;Existem alguns estudos, ainda inconclusivos, sobre a identificação deste composto na constituição das ervas e de sua eventual toxicidade para os usuários (a Anvisa diz ser um produto moderadamente tóxico para o homem e pouco tóxico para o meio ambiente). Contudo, é bom lembrar que certamente nunca foi testada a sua veiculação em humanos mediante o fumo da maconha;, ressalta o perito.

O relatório recomenda à Coordenação de Repressão à Entorpecentes da PF que, apesar de o agrotóxico ser controlado pela Anvisa e pelo Ministério da Agricultura, deveria haver a necessidade de registrar as vendas do produto, principalmente no Nordeste.


1- Efeitos
O THC é gerado pela própria maconha. A substância está em toda a estrutura da planta, inclusive nas raízes e folhas. Seu teor depende do solo, clima, da estação do ano em que começou a ser cultivada e do tempo levado entre a plantação e a colheita. Hoje, a maconha vinda do Paraguai possui um maior teor, mas pode ser substituída pelo skank brasileiro, também conhecido por erva-gambá, por causa de seu cheiro forte.

Para saber mais
Produtos controlados

A Polícia Federal mantém hoje controle e fiscalização permanente de 146 substâncias químicas para evitar que elas sejam usadas no refino de cocaína, ou mesmo como droga. Entre os produtos, estão alguns conhecidos e utilizados no cotidiano da população, como éter etílico, acetona e cimento. No caso da acetona e do éter, por exemplo, a embalagem vendida no varejo só pode chegar a ter 500 mililitros.

A PF também controla a saída de alguns produtos para a Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Nesse caso, está o cimento, cuja exportação só é permitida até 1,2 mil quilos por operação. Em se tratando da aguarraz e do thinner ; usados no Brasil para remoção de tintas ; a saída permitida é de 200 litros ou quilos. A soda cáustica também é controlada. Um cidadão só pode adquirir cinco quilos mensalmente. Em se tratando de pessoa jurídica, é proibida a compra de mais de 300 quilos. (EL).