Mirella D;Elia
Alana Rizzo
Mara Puljiz
Não pegou bem entre as universitárias brasilienses a iniciativa da Universidade Bandeirante (Uniban) de expulsar ; e, depois da repercussão, voltar atrás ; a estudante de turismo Geisy Arruda. Em 22 de outubro, ela foi humilhada, agredida e sofreu ameaças de violência por alunos. O motivo: ter ido à faculdade usando um vestido curto. O Correio percorreu quatro instituições de ensino da capital para mostrar que a combinação roupa curta e sala de aula é considerada normal pelas jovens e que não há regras de vestuário nas universidades definindo o que pode ser usado.
De short e camiseta, a estudante de moda Letícia Augier, 18 anos, foi uma das primeiras a criticar a atitude ;hostil, machista e antiética; da universidade paulista. A jovem acredita que um homem sem camisa, por exemplo, não causaria tanta reação. ;Ela não estava nua ou de biquíni. Estava ali para estudar e não explorando a própria imagem;, argumenta.
A advogada Jackelyne Palhares Borges de Lima, 25, também não vê problemas em usar roupa curta na faculdade. Apaixonada por vestidos e shorts, diz que nunca sofreu preconceito. ;A questão é não ser vulgar;, acredita. ;A roupa que a pessoa veste na faculdade depende do lugar para onde ela vai depois;, exemplifica. ;A pessoa tem que ser ela mesma e se vestir como se sentir bem.;
Pós-graduanda em psicologia do Centro Universitário de Brasília (Ceub), Rejane Agapito, 27, avalia que as universidades deveriam ter normas claras sobre o que é ou não proibido. ;Cada ambiente é um ambiente e a pessoa tem que ter bom senso. Não achei que o vestido dela estava tão curto, mas a reação dos outros vai muito de como a pessoa se porta;, avalia. De acordo com a assessoria de imprensa da instituição, nunca houve problemas relacionados às roupas dos estudantes. Também não há regras sobre o assunto.
Em São Paulo, durante mais de uma hora de entrevista, o vice-reitor da Uniban, Ellis Brown, não conseguiu explicar que atos teriam feito a universidade expulsar a aluna Geisy Arruda. Porém, admitiu que a repercussão na mídia interferiu na revogação da medida. ;A decisão da mudança, em parte, foi provocada pela repercussão negativa do caso;, disse, negando que o conselho universitário tenha se precipitado ao expulsar a estudante. Para proibir a aluna de voltar a frequentar o curso, a Uniban informou em nota que a medida foi adotada após ;flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade;.
Questionado sobre possíveis punições aos alunos envolvidos nas ofensas, Brown disse que não haverá. ;Teríamos de perguntar se puniríamos 800 alunos. Isso não resolveria o problema social;, enfatiza. Sobre o dano à imagem da instituição, o vice-reitor disse que ;aluno da Uniban não é Taleban;, dizendo que os estudantes começam a sofrer discriminação.
Advogado de Geisy, Nehemias Domingos de Melo defende que os estudantes que participaram sejam punidos. ;Pedimos a abertura do inquérito e vamos esperar as autoridades identificarem essas pessoas.; Em notificação extrajudicial à Uniban, o advogado cobra segurança para que a jovem volte a estudar e conclua o semestre.
Gaveta
O Ministério da Educação (MEC) arquivou o pedido de explicações encaminhado à Uniban. A Secretaria de Educação Superior tinha dado 10 dias para que a instituição informasse os motivos da expulsão da jovem. Agora, a promessa do órgão é acompanhar o processo de reinserção da aluna. O recuo da universidade não vai interferir na investigação da Delegacia de Defesa da Mulher de São Bernardo (SP) nem no inquérito do Ministério Público de São Paulo e no procedimento do Procon-SP, que apura a conduta da Uniban.
DEBATE PÚBLICO
A Comissão de Educação da Câmara analisa hoje requerimento que propõe a realização de audiência pública para debater a polêmica envolvendo a estudante. A reunião está marcada para às 11h30, no plenário 10. O requerimento n; 284/2009 foi proposto pelos deputados Ivan Valente (PSOL/SP) e Angela Portela (PT/RR).