Brasil

Propostas do governo para combater mudanças climáticas são vagas, dizem especialistas

postado em 14/11/2009 09:29
Depois de várias reuniões para definir quais os planos do Brasil para combater as mudanças climáticas, a cúpula do governo, liderada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciou ontem que, apesar da meta de reduzir as emissões dos gases causadores do efeito estufa ficarem entre 36% e 39%, o país ainda vai manter uma "política de intenções" em relação ao assunto. Ou seja, não vai se comprometer formalmente a atingir os objetivos divulgados. Os pronunciamentos de Dilma e do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, não agradaram aos ambientalistas. [SAIBAMAIS]"Demos um passo importante frente ao cenário internacional porque o resultado mostra uma preocupação do Brasil com o tema, mas, internamente, para cumprir essa metas, não sei como podemos agir na prática. Até agora, as propostas ainda não têm detalhamento suficiente", critica o coordenador do Instituto Socioambiental (ISA), Raul do Valle. O coordenador da Campanha do Clima do Greenpeace, João Talocchi, endossa as críticas ao plano brasileiro: "Pelo discurso da ministra Dilma, esse compromisso só vai realmente acontecer com a dependência de alguns fatores atrelados a recursos financeiros, contribuições internacionais e a vontade do setor privado em participar ou não dessa redução. Isso é preocupante". Os ambientalistas também observaram uma mudança no comportamento de Dilma. Antes, ela defendia que o Brasil deveria adotar apenas um compromisso voluntário no combate ao aquecimento global. Agora, apresenta números que serão levados à Conferência do Clima, em dezembro, na Dinamarca. A ministra chefiará a delegação brasileira e os especialistas acreditam que sua recente preocupação com o meio ambiente tem motivação eleitoral. Com o objetivo de afastar o fantasma da pré-candidata à Presidência da República Marina Silva (PV-AC), Dilma - escolhida pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva para sucedê-lo - aposta também na pressão sobre o pré-candidato do PSDB, o governador de São Paulo, José Serra. Ele vem demonstrando interesse pelos temas ambientais ultimamente e estabeleceu uma meta estadual de redução em 20% na emissão de gases de efeito estufa até 2020. "Todo mundo agora quer aparecer. O Serra editou a sua lei e a Dilma quer ser a protagonista na conferência do Clima. O que está em jogo é aliar desenvolvimento com redução de poluentes, mas isso não será fácil", diz o líder do PSol, deputado Ivan Valente (SP). "O objetivo do governo é realçar o 'lado verde' da Dilma. Mas ela está intimamente ligada ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que não tem nada de ambiental. Antes, se ela não falava de metas, agora viu que a reação dos opositores pode ser perigosa e precisou apresentar esse número bonito. Só espero que não fique só como plataforma eleitoral, porque até agora ela está projetando um lado ambiental incipiente", sublinha Talocchi. Palavra de especialista Debate social "A falta de uma proposta mais clara para que setores brasileiros de peso como o da agropecuária, da indústria e da energia reduzam a emissão de gases causadores de efeito estufa até 2020 desanimou porque essas áreas serão responsáveis pela redução de ao menos 20% das emissões. Mas o governo ainda não decidiu qual o grau de responsabilidade de cada um. Agora, o Brasil tem a obrigação moral de chamar para a discussão a academia, o setor privado e a sociedade civil para decidir quem tem responsabilidade sobre o assunto, quais os mecanismos para chegarmos a esses resultados e se eles podem ser ampliados no futuro." João Talocchi, coordenador da Campanha do Clima do Greenpeace

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