postado em 18/11/2009 09:39
Criticados por uns e reverenciados por outros, os estudantes da Universidade de Brasília (UnB) que tiraram a roupa na semana passada para protestar contra a discriminação sofrida por Geisy Arruda estão aí para mostrar que participar de um ato público não é sinônimo de falta do que fazer. Alunos do curso de sociologia e gestores do Centro Acadêmico do curso, Michelle Rosa, 22 anos, Marina Flores, 18, Rodolfo Godoi, 17, Thiago Rodrigues, 21, e Raphael Sebba, 19, se dedicam bastante aos livros, mas também reservam um tempo para as causas sociais ligadas à questão da opressão e da diversidade.
[SAIBAMAIS]"Dizer que quem faz parte do movimento estudantil não estuda é um comentário leigo. Muita gente tem o desempenho acima da média", defende Raphael, que pretende ser professor. A maioria desses jovens aderiu à luta por um mundo mais justo ainda no ensino médio. Eles já têm no currículo uma série de participações em manifestações de repercussão nacional, como a defesa do refugiado político italiano Césare Battisti; a ocupação da reitoria da UnB exigindo a saída do reitor à época, Timothy Mulholland; o protesto Fora, Sarney; a descriminalização do aborto, e a defesa do passe livre no transporte público para estudantes.
O debate é constante na vida de Michelle Rosa. Nascida e criada em Samambaia, ela mora há seis meses na Casa do Estudante Universitário, na UnB, onde divide um quarto com quatro colegas homens, dos cursos de artes cênicas, pedagogia, engenharia florestal e filosofia. "Nosso apartamento é bem movimentado, todo mundo participa de alguma articulação e sempre rolam umas reuniões", diz a moça.
A razão para tanta militância é a defesa da igualdade de gênero, classe, raça e opção sexual. "O fato de eu ser mulher, negra, lésbica e da periferia faz com que eu participe de várias lutas para ter uma sociedade diferente", justifica. Mas as escolhas de Michelle nem sempre são bem-vistas pela família, formada por protestantes. "Eles acharam uma sem-vergonhice (tirar a roupa). Ser revolucionária não é fácil."
A estudante Marina Flores, do primeiro semestre de ciências sociais, teve que escrever uma carta para a mãe com os motivos ideológicos e simbólicos de mostrar os seios em rede nacional, antes de obter as desculpas da progenitora. "Ela ficou preocupada com a minha imagem na universidade, mas expliquei que não foi com intuito pornográfico. A ideia era lembrar que corpo não necessariamente tem que ser um objeto sexual, uma necessidade masculina." Os pais de Thiago Rodrigues também não apoiam a presença do filho em protestos, mas ele insiste que é importante.
Vegetarianismo
Dentro do grupo, também há gente que defende outras causas. Rodolfo Godoi é a favor do vegetarianismo. Já participou de alguns encontros em Brasília. Para ele, a causa vegetariana está atrelada aos outros movimentos pela ótica do capitalismo. "Para mim, não basta estar apenas em uma causa. Só faz sentido se estiver em conjunto."
Até sexta-feira, o grupo promove debates pela Semana Nacional da Consciência Negra. Os encontros ocorrem ao meio-dia. Hoje e amanhã, na entrada norte do Instituto Central de Ciências (ICC), o Minhocão, e sexta, no centro acadêmico de sociologia.